As lendas vampirescas do Castelo de Bran na Romênia

Esta semana estou de passagem pela Romênia. País bacana e com preços surpreendentemente baixos para padrões europeus (a moeda é o Lei e está 4 para 1 em relação ao Euro). O lugar é recheado de lendas, mitos e tradições que são, logicamente, explorados ao extremo pelo turismo local.

bran2

Nas andanças que fiz por aqui fui para Brașov, que é uma das primeiras cidades da região da Transilvania. De lá fui para Bran que é o reduto que abriga o famigerado castelo do Conde Drácula.

Entra trilha sonora de terror.

Pausa dramática.

Ok. Na verdade o Castelo de Bran nunca foi o castelo do Conde Dracula, apesar de fontes históricas confirmarem que o sujeito passou pelo local em algum momento do século XIV. O grande lance é que o tal castelo, SUPOSTAMENTE (assim mesmo, em caixa alta, negrito e sublinhado), foi a inspiração para o escritor irlandês Bram Stocker escrever seu livro “Dracula“.

bfan

No romance, Stocker descreve o castelo do conde vagamente como um local que fica na confluência de três territórios romenos: Moldavia, Transilvania e Bukovina. Ele ainda fala que o castelo, em ruínas, fica na beira de um penhasco. Bom, coincidência ou não, a descrição bate – de certa maneira – com o Castelo de Bran. Vendo uma possiblidade de explorar o turismo com esse fato, o governo local criou a ideia de que Bran é o “Castelo do Drácula” para atrair turistas que podem, além de visitar o castelo, comprar toda sorte de lembrancinhas na feira que fica ao pé do castelo. Eu imagino o Drácula se batendo na cova se soubesse que vendem chaveirinhos, canequinhas, imãs de geladeira e camisetas divertidas com a sua cara.

monstro

Voltemos para os fatos históricos conhecidos. Na metade do século XIV os ataques otomanos estavam se aproximando da Transilvania. O rei húngaro Louis I de Anjou decidiu construir uma fortaleza nos arredores de Bran, nas fronteiras entre a Transilvania e a Walachia, como um ponto estratégico para proteger o território.

Neste tempo temos a figura de Vlad “Țepeș” Dracula surgindo como um impiedoso guerreiro que empalava suas vítimas como prova de brutalidade (Țepeș, que se pronuncia Tsê-pêsh, é empalador em romeno). Țepeș era filho de Vlad Dracul (Dracul = demônio em romeno) e assumiu o nome de Dracula (Dracula = filho do demônio) agregando o sutil apelido de “empalador” no nome. Eu gosto de pensar que o Dracula foi um precursor de usar apelidos no meios dos nomes, igual a lutadores profissionais como Anderson “Spider” Silva ou o Apollo “Doutrinador” Creed (de Rocky).

Em Bucareste tem até uma fonte com seu nome. Curioso você olhar para uma fonte super bonita e lembrar que ela homenageia um sujeito que colocava suas vítimas trespassadas por lanças.

fonte

Contam os documentos da época que em 1459, tropas de Vlad Tepes atacaram Brașov por conta de disputas entre o governante da Walachia e os comerciantes dessa cidade. O Sr. Empalador, na ocasião, pode ter passado pelo castelo, mas nunca morou no mesmo.

O castelo serviu durante séculos como base millitar, mas em 1836 perdeu importância quando as demarcações de fronteiras entre a Transilvania e a Walachia mudaram.

No século XX, em 1920, o castelo foi reformado para abrigar a nobreza romena. Consequentemente virou patrimônio histórico e hoje é um ponto turístico que se serve das lendas vampirescas para atrair visitantes.

Um livro bem legal que aborda este tipo se apropriação cultural é o “A invenção das tradições” (organizado por Eric Hobsbawm & Terence Ranger). É uma leitura muito bacana e que vai desvendando como algumas culturas são estrategicamente estereotipadas em cima de lendas e mitos para compor sua identidade.

Post longo esse. +1 de paciência para você que leu até o final.

Receba nossos posts GRÁTIS!
Mostrar comentários (2)

This website uses cookies to improve your experience. We'll assume you're ok with this, but you can opt-out if you wish. Accept Read More