Por que queremos que Moonlight ganhe um Oscar

Se você é que nem eu e gosta de assistir um filme sem saber absolutamente nada sobre ele, pare por aqui e só volte depois. Caso contrário, vamos continuar.

Moonlight narra a história de Chiron, um garoto negro da periferia da Flórida, desde sua infância até a idade adulta. Até aí poderia ser mais um desses filmes de crime e hip-hop americano se não fosse por uma coisa (spoiler!): Chiron é homossexual e tem extrema dificuldade em lidar com isso. A história se desenvolve com uma delicadeza ímpar de levar qualquer um às lágrimas.

Ok, mas por que esse filme merece tanto um Oscar?

Volta a fita para os prêmios de 2016: nenhum negro nomeado. Volta mais um pouco para o discurso de aceitação do Golden Globe do mesmo ano de Jeffrey Tambor: ele espera ser o último cisgenêro a ganhar um prêmio ao interpretar um transexual.

As duas últimas mulheres negras a ganharem um Oscar foram Octavia Spencer, por Histórias Cruzadas, e Lupita Nyongo, por 12 Anos de Escravidão. No primeiro a atriz em questão interpretava uma empregada doméstica e no segundo, uma escrava. Tá entendendo onde eu quero chegar?

Ainda no ano passado, os holofotes se viraram para Tangerine, de Sean Baker, filme ultra-low-budget filmado com iPhone 5 e estrelado por transexuais. Apesar de ter ganho melhor atriz no Spirit Awards, a atriz Mya Taylor foi ignorada pela academia.

Hollywood, a gente não tá te entendendo.

Se o Oscar é a indústria se autocelebrando (como eles mesmos dizem) então tem algo muito errado nessa história. Como em pleno 2016, que ok, foi trevas, mas ainda assim como não tivemos indicados negros ou transexuais? O mais perto de diversidade que chegamos foi o discurso do Sam Smith afirmando ser “o primeiro homem abertamente gay a ganhar”.

A desculpa mais comum da indústria é dizer que “ah, mas não tem filmes bons sobre isso”, “não tem atores bons suficientes”, “os papéis escritos são sempre nesse estilo”. Não cola mais. E Moonlight está ai pra provar isso. Um roteiro e direção incríveis por um diretor negro, performances emocionantes tanto de homens quanto de mulheres também negras e se isso tudo não tava bom pra você, tem uma música do Caetano no meio (spoiler de novo, foi mal!).

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