Narciso é meu nome do meio

“Todo o mundo é um palco. Mas não precisava tanto exibicionismo.”

O Millôr, sempre genial (que falta ele faz!), já tinha matado a charada.
Todos somos exibicionistas.
Todos somos narcisistas em maior ou menor grau.
Aliás, ser narcisista é normal até certa idade, Freud explica.
E é até bom.

Segundo a psicanálise, é um aspecto fundamental para a constituição do sujeito.
Amar-se, achar que você é a última bolacha do pacote e acreditar que o Sol nasce só para dar um tom de bronze a sua tez ajuda a fortalecer a autoestima e prepara você para a vida que vem pela frente.
Essa que insiste em ter contas para pagar mês sim e mês também.
Essa vida em que – pasme! – tem gente fazendo piadinha maldosa a seu respeito quando você levanta da mesa no almoço da firma para atender o celular (parênteses para falar do almoço da firma. Evite. Fuja como político foge do Sérgio Moro. Diga que tem algo melhor para fazer, tipo extrair um dente do siso. Como diz um grande amigo meu, almoço da firma é sentar ao lado da mesma pessoa de sempre, só que pagando mais caro, porque o outro lá da ponta pediu sobremesa).

Mas voltando ao narcisismo.
Nos últimos anos, criamos ferramentas fantásticas para dar vazão a esse aspecto até então levemente controlado das nossas vidas.

Sim, você sabe de quem estou falando.
Delas.
Das redes sociais.

Mas, veja, da mesma forma que não dá para culpar o Waze pela violência daquela rua perigosa que ele jogou você para economizar 5 minutos, não podemos dizer que são as redes sociais que nos tornaram mais narcisistas.
Nós já estávamos lá, sentadinhos no caiaque, à espera. As redes sociais simplesmente nos deram os remos e disseram: “Vai, meu filho, mostra pro mundo como você é lindo!”.

E, meu amigo, nós gostamos disso.
Eu sou lindo, meus filhos são lindos, meu namorado (aquele traste imprestável) é lindo, o prato que eu vou comer é lindo, a Lua gigante-com-eclipse-que-eu-nunca-tinha-ouvido-falar-e-que-acontece-uma-vez-a-cada-milianos é linda.
Até aquela exposição, na qual reclamei por ter ficado duas horas em pé na fila para ver um artista que eu não sei quem é, é linda.
De morrer.
Imperdível.
hashtagficaadica

Se antes aceitávamos atitudes narcisistas de rockstars, jogadores de futebol e artistas famosos em geral, hoje aceitamos e cultivamos o narcisismo dos comuns.
Donas de casa, funcionários de firmas de contabilidade, bancários, engenheiros, advogados, dentistas, economistas, pessoas que suam a tanga todo dia para conseguir ter uma vida digna, todo mundo tem Narciso como nome do meio.

E quer saber?
Se não atrapalhar, se não prejudicar a vida de ninguém, se não tirar sua vida dos trilhos, acho muito divertido, salutar até.
Ver o que tá rolando na vida dos seus amigos, comentar, compartilhar, discutir e poder se mostrar um pouco é o maior barato. Narcisismo em doses moderadas ajuda a matar o tempo e nos faz acreditar que não temos uma vidinha assim tão, digamos, fugaz quanto o calendário insiste em nos mostrar.
Faz nos sentirmos um pouco rockstar, só que com contas para pagar todo mês e filhos para levar à escola todo dia.
Estes sim, os mais lindos do mundo.
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