Quem é dono dos dados?

Como era de se esperar, Big Data tem sido tema recorrente aqui nos painéis e palestras do South By. Na verdade, fiz uma pesquisa rápida e não profunda e algo em torno de 6% dos 6000 eventos/palestras/keynotes do festival tinham a palavra Data ou a expressão Big Data no título (fora as outras que possivelmente citaram o tema direta e indiretamente em seus conteúdos). Em um evento com tanta pluralidade de temas, é uma marca expressiva. Ainda vou falar sobre aplicações reais e decisivas dos dados na nossa vida no próximo texto aqui, mas antes acho que vale uma reflexão importante em um momento em que se d o assunto no próximo texto, mas queria trazer a tona

Ultimamente – e talvez ainda mais depois da derrota da seleção na Copa – a ideia da utilização dos dados auxiliando a performance no esporte se popularizou no Brasil. Hoje, quase todas as mesas redondas de futebol apresentam e debatem estatísticas de jogadores e equipes. Se por aqui a discussão é incipiente, nos EUA os dados são coisa séria. Enquanto no Brasil nossos técnicos e jornalistas esportivos começam a ver um diferencial competitivo esportivo nos números, por aqui os dados são parte integrante e indissociável do jogo.

Roderick Moore, Sports Performance Manager da Catapult Sports, ressaltou em um painel que desde adolescentes, quando os atletas começam a praticar esportes em seus colégios, suas performances e desempenho físico já estão sendo mensurados. Sua empresa produz wearable devices que monitoram tudo do atleta (desde sua velocidade, deslocamento em campo, arranque e altura do salto até as horas de sono e o descanso). Isso, é claro, fica ainda mais profissional conforme o atleta entra em uma liga profissional e se torna um atleta de elite, quando, então, assinam um contrato que prevê a mensuração e coleta desses dados pelas equipes de performance dos seus times empregadores.

É de se esperar que em um ambiente competitivo e pressionado pelos grandes investimentos como as ligas americanas de esportes, a cobrança por resultados seja grande. A possibilidade de errar em uma escolha de Draft ou na escalação de um time pode custar, mais do que vitórias e derrotas, muito dinheiro. Nesse sentido, os dados ajudam e trazem segurança. Mas parece que nem todos os lados dessa história estão satisfeitos.

Ainda no mesmo painel, Emmanuel Acho , linebacker do Philadelphia Eagles, fez o contraponto. Articulado como quase todos os atletas americanos, sua visão é contundente: “A ciência tem um papel importante hoje no jogo, mas SuperBowls foram vencidos antes disso tudo”. A discordância dele em relação aos dados vem do fato de que, segundo o próprio, não há clareza em relação å coleta e distribuição dos dados. Se os dados servem para balizar trocas, valorizar ou desvalorizar um atleta, ganhar ou perder jogos e até enriquecer transmissões de TV, por que não podem servir para prevenir lesões, por exemplo? Por que justamente o lado que fornece os dados não se aproveita deles?

Há muita nebulosidade ainda nas ligas no que diz respeito a posse e repasse desses dados. Jogadores quase nunca têm acesso, apesar de serem obrigados a fornecê-los. Times e franquias dependem de empresas como a Catapult para coletar, mas também se veem reféns dos jogadores que, por vezes, se rebelam contra a utilização dos wearables. Esse cenário de indefinições realça um questionamento que se aplica para todos nós que trabalhamos com dados e métricas: afinal, quem é dono dos dados? O software que coleta, as pessoas que fornecem (as vezes sem consentimento) ou as marcas que utilizam? Compartilho da opinião dos que defendem a ideia de que os dados são de todos e, portanto, precisam ser públicos.

Legalmente, há uma discussão grande. Moralmente, talvez haja outra ainda maior.

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