Sobre cartas no chão e uma ilusão de realidade

[mks_dropcap style=”square” size=”52″ bg_color=”#333333″ txt_color=”#ffffff”]C[/mks_dropcap]om um deck de cartas na mão, Sung Kim começou um dos painéis mais inspiradores que vi no SxSW. “O que vocês vêm aqui na minha mão é uma representação de ordem real, na qual aprendemos a organizar essas cartas dessa maneira. Conseguimos vê-las empilhadas, a primeira carta e as costas da última. Mas o que acontece se eu fizer isso?” E as cartas voaram pelos ares caindo no chão ao redor dele.


“O que a gente chamaria de desorganização, na verdade, parece um jeito melhor de ver esse baralho: olhando ao meu redor vejo várias cartas, cada uma de um jeito, em uma posição e disposição”


 

2615fed5-077c-484d-85f8-4e48b2e9629aTodos os grandes gênios da humanidade tinham escritórios que nós não consideraríamos exatamente organizados. Mas a questão não é a organização em si e sim o que ela representa. A maneira como aprendemos desde sempre a criar modelos, padrões e formas para acomodar nossas coisas é o insight da conversa. Segundo Kim, temos um jeito próprio e controlado de vermos o mundo e nem o avanço tecnológico e a revolução digital nos fizeram mudar.

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 “Design acessível é o melhor design” posto em prática por Einstein, Steve Jobs e Zuckerberg.

O pior é que ele tem razão. Ok, criamos telefones celulares que são capazes de quase tudo, mas ainda assim são telefones e se parecem com os antigos. E eles nem evoluem tanto assim de um lançamento para o outro, convenhamos. Aprimoram-se funções e interfaces, mas ele permanecem sendo apenas uma representação digital de um padrão real. Procuramos por músicas, vídeos, matchs no tinder e tudo mais exatamente da mesma maneira unidimensional que sempre fizemos buscas, desde os classificados de jornal, ou da maneira como organizamos livros em prateleiras e caixas em um estoque.

As câmeras fotográficas são outro bom exemplo. É ótimo termos colocados câmeras superpotentes em smartphones, mas, no fim das contas, é aquilo: ainda tem um botão para flash, um para tirar a foto, um jeito de ajustar o foco…Quer dizer, ainda é uma máquina só que dentro de um telefone.

Deixamos, portanto, de explorar outras possibilidades porque estamos acostumados a criar uma ilusão de realidade dentro do espaço digital. Estamos apenas transferindo coisas reais para um ambiente digital (e muitas vezes se esforçando para que elas sejam, de fato, parecidas). O problema é que isso é pouco diante das possibilidades.

Então, como escapar dessa ilusão de realidade se já estamos tão acostumados com ela? Não é fácil e eu ainda não sei fazer, confesso. Mas vale ter a noção das cartas de baralho espalhadas pelo chão na memória. Talvez precisemos de um pensamento que não seja reciclado e sim completamente novo. Uma maneira de enxergar como as coisas poderiam ser organizadas sem ser em listas de thumbnails, por exemplo. Acho que tem a ver com aproveitar o que temos criado, mas não se limitar a isso, deixando o subconsciente criar. Já tem gente tentando.

E bom, as pessoas vão dizer que não dá pra fazer e que não é user friendly ou que os consumidores não vão usar. E o Sung Kim acha que essas pessoas estão certas. Da mesma forma que seus pais nunca aprenderam a clicar duas vezes com o mouse ou seus avós nunca aprenderam a dirigir. Mas ou a gente tenta mudar ou vai ficar cada vez mais difícil fazer campanha pra vender as mesmas coisas.

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