Peri de calça jeans: a escola, o índio e a Globalização

Quando criança, na escola, o dia do Índio era comemorado com tamanha riqueza de símbolos que o tal índio pareceria um personagem do folclore brasileiro. Eu adorava me fantasiar. Um dia perguntei para minha mãe: “pena de índio também é de papel?”. Minha mãe respondeu com um objetivo “não” sem perceber a filosofia por trás da minha pergunta infantil. Pena de índio, na história, é sim de papel. A escola não me ajudou a perceber isso. Quando adolescente, o índio folclórico passou a ser a figura romântica, um personagem mítico, inocente e puro. Nesta época eu fantasiava com Peri, de José de Alencar.

Hoje, quando a literatura brasileira parece ainda mais distante da sala de aula, meus alunos não conhecem Peri. Mas sempre tem um exemplo de índio que bebe, usa calça jeans e tem computador. É assim que os índios lhe aparecem. Sobretudo por causa desta representação na grande mídia. Em uma das minhas aulas sobre Globalização, eu falei de um termo cunhado pelo filósofo canadense Herbert Marshall McLuhan, “aldeia global”.  Aldeia, palavra usada em comparação ao próprio ”habitat” indígena, designa um mundo em que todos estão conectados. Conexão esta que se dá por meio das tecnologias da informação e da comunicação. Na verdade, conexão que não ocorreu. Uma das falácias da Globalização. E que nos faz crer que todos ou estão hiperconectados ou desejam estar. Algo muito distante da realidade. Ainda bem. Ainda bem que existem tribos indígenas isoladas (que nunca tiveram contato com o homem “branco”) e tribos que querem defender seu direito à permanência em um território considerado sagrado. Não querem se inserir em todas as esferas do que hoje expressa o mundo globalizado. Não querem consumir e acumular objetos. Mas tem, legitimamente, o direito de utilizar meios digitais para denunciar a ameaça a esse modo de vida que escolheram. É papel da escola ensinar que precisamos ter um olhar sensível para questão indígena contemporânea. Não precisamos tornar o índio um mito para compreende-lo. Tão pouco sentir pena. Pena que não entendem.

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