Um retrato do festival: mais categorias, mais jurados e menos brasileiros

Há mais ou menos cinquenta anos, pensar em propaganda se restringia a pouquíssimas frentes: anúncios, spots e comerciais. Com o passar do tempo, o marketing seguiu se reinventando e assim permanece até os dias de hoje, um update constante cobrando dos profissionais da área cada vez mais inovação na hora de criar. E estes, claro, podendo felizmente usufruir de cada vez mais tecnologias para executar esse processo.

Neste ano, o mais renomado festival de publicidade mundial reúne 24 categorias – três a mais do que a edição passada. Para abranger as novas ramificações de mídia e indústria, foi criada a categoria Digital Craft, braço dos leões Mobile e Cyber. Aqui, a ideia é avaliar além da ideia por si só, mas também a experiência do usuário e como isso funcionou na prática. Nada mais justo. Já o Branded Content, área cada vez mais ampla no universo da propaganda, expandiu para Entertainment Lions. A música, por fim, também virou categoria própria.

De acordo com o CEO do festival, a eliminação de categorias já existentes em edições futuras está descartada, já que “todos permanecem fortes”. Já a criação de novos é uma possibilidade quase certeira.

A crescente lista de categorias é um reflexo da realidade das agências, onde o número de profissionais envolvidos na criação de uma campanha está consideravelmente maior. O trabalho que antes se concentrava na dupla diretor de arte e redator, hoje envolve especialmente aqueles da área digital, já que a inovação, que é a meta de todos, vem principalmente daí. Será? Essa é, inclusive, a realidade atual de todo o universo da comunicação, uma das áreas que mais tem mudado e, por carência de inovação e novas possibilidades, passou a envolver profissionais de diferentes áreas em um processo que antes era muito mais básico e simples. Bom assim.

Do mesmo jeito que subiram os números de categorias e, por consequência, de jurados participantes, aumentou também a lista de inscrições: com 43.101 concorrentes, o número fecha com uma alta 7,4% em relação a 2015. Os países com maior número de representantes em Cannes continuam sendo os mesmos, Estados Unidos e Reino Unido – e ambos batem neste ano seus recordes históricos no número de competidores: são 9.702 norte-americanos e 3.214 profissionais da propaganda das agências do Reino Unido.

Na contramão de todos esses números em crescimento está a participação brasileira no festival. De 2015 para cá, caiu em 10% o volume de inscrições de peças do país. Neste ano, fomos para França com o menor número de concorrentes dos últimos cinco anos: 2805. Nosso recorde é datado de 2013, quando foram 3477 inscrições. A expectativa então é que o número de delegados seja também menor do que o ano passado, quando 690 se inscreveram na posição. A própria Ogilvy & Mather Brasil, agência do ano em Cannes de 2013 e recordista de estatuetas, reduziu as inscrições em 30% nessa edição.

Os motivos disso são óbvios: crise econômica e a desvalorização do real frente ao Euro, só para citar os principais. Diante desse cenário, fica claro também que existe uma falta de ambição das agências nacionais, que não têm focado suas campanhas em resultados de impacto mundial, e do receio das mesmas e investir em grandes campanhas caras.

O que não significa que há menos brasileiros por essas ruas.

Nessa situação, no fim, ficaria a deixa para que as agências invistam mais em ideias para engajar o consumidor do que em projetos megalomaníacos. Resta ver agora, ao longo da premiação, se a crise funcionou como fator motivacional ou se o receio das agências em meio ao cenário econômico atual foi mais forte do que a ambição.

Aí, poderemos agradecer à criatividade.

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