Tempos olímpicos

Ao meio das histórias sobre a situação política, econômica, Zika e despreparo nacional na organização das olimpíadas, percebi a dica: deveria olhar cinicamente os jogos – muito como olhamos cinicamente a maioria das coisas nestes tempos atuais. E, no entanto…

No entanto, me emociono. Me emociono com Michael Phelps, que desafia a idade e o seu flerte com a autodestruição, com Rafaela Silva, que é uma lutadora em mais de um sentido ou com a nadadora Dana Vollmer, que após ganhar o ouro em 2012 se “aposentou” do esporte e apenas 17 meses após ter dado à luz retornou para ganhar uma prata e um bronze, mostrando que não é preciso obedecer à nenhum cronograma pré-estabelecido ou permanecer em nenhuma “caixa”.

A verdade é que as olimpíadas vão além de uma festa superfaturada. O que é bom nelas, é muito bom para ser ignorado como exemplo. A primeira coisa, é que propõem encararmos o limite humano como sendo inteiramente negociável, porque ele mostra apenas o que foi feito até aquele momento e não o que pode ser alcançado no futuro. Isto não é pouca coisa. É a proposta de que para nos sentirmos inteiramente vivos, é preciso se desafiar a ir o mais longe possível. Todo “record” conquistado, toda performance individual e toda “volta por cima” é uma conquista pessoal, mas também uma metáfora de alcance universal.

Outro ponto de admiração (e até mesmo de reverência) são os atletas. Boa parte deles possui uma vontade mais forte do que as próprias probabilidades. Trocam ressentimentos por metas e isto também não é pouca coisa. E como trabalham. Hora após hora, dia após dia, sacrificam tempo livre e forjam uma confiança que muitos apenas imaginam ser possível. Se arriscam – como a ciclista Annemiek van Vleute – mas continuam a se desafiar e a seguir em frente porque têm este objetivo que querem muito e a única maneira de alcançá-lo é “andando” no limite. Costumamos nos maravilhar com suas habilidades atléticas, quando o que é realmente maravilhoso e o que faz a diferença é o comprometimento que demonstram.

Sei que o “sistema” do mundo dos esportes tem suas falhas e suas corrupções – doping está aí para me dar um “choque de realidade”. Sei que o business fala mais alto do que o atleta na hora de definir como o jogo será jogado – do horário das competições aos intermináveis comentários dos especialistas na televisão ou à gincana para assistir qualquer competição ao vivo – não sou ingênuo. Mas assistir ao Phelps, à Rafaela Silva ou à Annemiek mirando tão alto, se comprometendo tanto e convidando todos os “olhos” do mundo a assistir a tudo, dando certo ou errado, me dá um “nó” na garganta. Teria que ter um coração de pedra para ignorar.

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