O adeus a Vivienne Westwood

Vivienne Westwood, icônica estilista britânica e ativista ambiental, faleceu ontem, aos 81 anos de idade. Ela ficou conhecida por seu trabalho revolucionário na moda nos anos 70 e 80, que misturava elementos do punk e do glam rock com a moda clássica.

Além de sua influência na moda, Westwood também foi conhecida por sua paixão pelo meio ambiente e pelo seu trabalho em campanhas de conscientização ambiental. A morte de Vivienne Westwood foi lamentada por muitos, incluindo amigos, colegas e fãs de moda, que lembraram sua contribuição única e duradoura para o mundo da moda.

Abaixo um trecho de um post anterior, em que mencionei a obra Vivienne Westwood na ocasião do lançamento do filme Cruella.

Espírito punk

Vivienne Westwood e seu marido, o empresário Malcon McLaren, foram os responsáveis pela criação e disseminação da estética punk em Londres. As peças criadas por ela captaram o espírito de revolta contra o sistema e as tradições dos jovens britânicos da classe operária, que sofria com crise econômica e desemprego nos anos 1970. A designer começou criando camisetas estampadas com frases e imagens que criticavam o status quo. As peças eram remendadas com pins, badges, alfinetes e até ossos costurados e vendidas em uma pequena loja, chamada Sex, que se transformou em referência para artistas e fashionistas. 

O figurino de Cruella captura uma fase posterior das criações de Vivienne, quando passa a desfilar na London Fashion Week e mistura a alfaiataria e padronagens tradicionais inglesas com vestidos de saias volumosas e corsets, temperados com um toque romântico, principalmente depois da coleção Anglomania, de 1993.

Sempre com forte posicionamento político, a estilista apresentou em 2005 a coleção Propaganda, com peças desconstruídas, inspiração militar e muitas camadas de tecidos diferentes, como os que aparecem em Cruella.

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A cena em que Cruella sai da caçamba de um caminhão de lixo remete aos Sex Pistols e o vestido tem referências às peças da coleção Propaganda, de Vivienne Westwood.

Happenings 

As aparições de Cruella são sempre impactantes. A apresentação do icônico casaco de dálmata print, ao som de I Wanna be Your Dog, dos Stooges, que interrompe o desfile da Baronesa, remete à apresentação que os Sex Pistols fizeram durante o Jubileu de Prata da Rainha, em 1977.

Proibidos de tocar depois do lançamento de God Save the Queen, alugaram um barco, sugestivamente chamado Rainha Elizabeth, e fizeram um show (com som ruim, porém animado) do meio do Rio Tâmisa, em frente ao Parlamento, durante o evento de comemoração dos 25 anos de reinado. No fim, a polícia acabou com a festa, mas a banda conseguiu chamar a atenção. Uma curiosidade: o aluguel, de 500 libras, foi pago por Richard Branson, que também estava na festa e se recusou a sair da embarcação quando os policiais chegaram.

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Apresentações surpresa que terminam com a polícia chegando: será que Sir Richard Branson também está por trás de Cruella? ;)

Artie e Jordan

Artie, o dono da loja de roupas vintage, que ajuda Cruella com suas criações, lembra muito Jordan, uma das personagens marcantes da época, que trabalhou por algum tempo na loja de Vivienne Westwood e chegou a se apresentar com os Sex Pistols. 

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Artie, à esquerda, e Jordan com Vivienne Westwood, à direita.

Originalidade

Quando criança, ainda como Estella, a menina super criativa sofria na escola por ser diferente. Ao se tornar adulta, tenta se adequar aos padrões. Porém, é quando mostra sua originalidade (depois de uma bebedeira) que começa a ser reconhecida. 

Suas criações se mostram inovadoras frente à moda tradicional, o que cria um paralelo com a cena punk da época, que falava sobre auto-expressão contra as tradições. Fresco e provocativo, o movimento buscava inspirar as pessoas a quebrar regras e ultrapassar limites, assim como a jovem estilista.

Música

A trilha sonora é muito boa e já é uma das minhas playlists favoritas. Traz originais e regravações de músicas de vários artistas da época, como The Clash, Blondie, The Stoogies, Bowie e Suzi Quatro. 

Mas também tem muita coisa boa de outras décadas, de Nina Simone, Nancy Sinatra, The Zombies e Bee Gees a Florence + The Machine, passando por The Doors, Deep Purple e Queen. 

Além de tudo, tem Rolling Stones no começo (She’s a Rainbow) e no final (Sympathy for the Devil). Não tem como não ser bom, né?

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A maquiagem da personagem em uma das cenas foi inspirada na capa do disco dos Sex Pistols.

É claro que tudo isso foi feito de forma a se adequar a um filme Disney, bem família e palatável a crianças. E essa é a parte mais legal!

Fica aqui minha esperança de que o longa que está recebendo tanta publicidade desperte o interesse e o gosto das gerações mais novas pela música e pelo universo tão incrível do punk rock, cheio de mensagens importantes e histórias de artistas incríveis, mas que foi reduzido a uma visão estereotipada com o passar dos anos.

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