ChatGPT: IA Generativa concretiza a vitória do algoritmo e dominá-la é crucial

O alerta global sobre a IA Generativa, o dilema das redes e o desafio da Inteligência Humana

“Nossos computadores têm dificuldade em compreender como o Homo sapiens fala, sente e sonha. Por isso, estamos ensinando o Homo sapiens a falar, sentir e sonhar na linguagem dos números, que pode ser entendida pelos computadores”.

Yuval Noah Harari, historiador e filósofo, na obra “Sapiens: Uma breve história da humanidade”, mostrou a ascensão da espécie Homo sapiens entre as revoluções que culminaram no que somos hoje. Um dos maiores entusiastas no assunto, Harari hoje tece críticas à evolução da IA Generativa quando utilizada sem qualquer moderação e cuidado.

Em recente artigo publicado no jornal The New York Times, o pensador israelense assinou uma pertinente reflexão com outros dois grandes nomes da tecnologia e criadores do Centro de Tecnologia Humana (CHT), instituição sem fins lucrativos que prega uso ético da tecnologia digital. São eles: Tristan Harris, ex-cientista da computação do Google e Aza Raskin, criador da rolagem infinita ou scroll — provavelmente arrependidos e buscando alguma redenção.

O ritmo rápido em que tudo está se desenrolando em termos de Inteligência Artificial Generativa foi um dos principais alvos da advertência dos autores:

“Uma corrida para dominar o mercado não deve definir a velocidade de implantação da tecnologia mais importante da humanidade. Devemos nos mover numa velocidade que nos permita fazer isso direito”.

O domínio da linguagem da IA, de acordo com eles, significa que agora ela pode hackear e manipular o sistema operacional da civilização. “Ao obter o domínio da linguagem, a IA está se apoderando da chave-mestra da civilização, dos cofres dos bancos aos santos sepulcros.”

Eles escrevem que, ao tomar controle da linguagem e de vasto conhecimento humano, a IA pode ter o controle de histórias, melodias, imagens, leis, políticas e ferramentas da forma que quiser e sem qualquer tipo de moderação.

O impacto inicial de plataformas como chatGPT foi sentido e uma carta assinada por relevantes nomes do ecossistema tecnológico — Harari está entre eles —, foi divulgada pedindo a interrupção de atividades que envolvam o tema IA Generativa.

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Yuval Noah Harari: “Muita calma nessa hora.”

A criatividade humana já era refém da Inteligência Artificial

Uma coisa já sabíamos: há alguns anos, profissionais que trabalham no ramo criativo, do marketing e de conteúdo já viviam reféns dos algoritmos.

Para suprir a lógica do feed infinito, que funciona de forma segmentada de acordo com o perfil do usuário, os criadores de conteúdo precisam fazer uma ginástica mental e estratégica para que seus textos, vídeos e imagens não sejam alvo de boicote ou percam alcance na moderação automatizada. Tudo para viciar o público e agradar as gigantes de tecnologia.

  • Quantos posts por dia são ideais para manter alcance no Instagram?
  • O texto no blog foi otimizado por técnicas de SEO (Otimização para motores de busca)?
  • Usou o número de caracteres correto para o post viralizar no Facebook?
  • Qual é a hashtag que está nos trending topics?
  • E a dancinha no Tik Tok é de qual trend?

Não é por menos que, no mesmo artigo, Harari, Harris e Sakin alertam que toda essa perigosa revolução já começou com as redes sociais. Para eles, esse foi o primeiro contato entre IA e a humanidade.

“Nas mídias sociais, a IA primitiva foi usada não para criar conteúdo, mas para selecionar o conteúdo gerado pelo usuário. A IA por trás de nossos feeds de notícias ainda está escolhendo quais palavras, sons e imagens atingem nossas retinas e tímpanos, com base na seleção daquelas que serão mais virais e terão mais reação e mais engajamento”.

Essa seleção, segundo os autores, criou uma cortina de ilusões, levou pessoas a porem bolhas e culminou em um negacionismo desenfreado da realidade, da ciência e da política.

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TIk Tok: poderoso algoritmo redefiniu a indústria do entretenimento

Dilema das redes: o alerta não é novo

Sobre o perigo dos algoritmos e a falta de ética das big techs, muito já tem sido revelado, inclusive com vozes dos criadores de todas essas “inovações tecnológicas”.

O documentário Dilema das redes, lançado em 2020, levou à luz a percepção de Harris e Sakin, bem como de vários outros ex-atuantes na indústria da tecnologia.

Ambos deram seus testemunhos sobre como a lógica dos algoritmos induzem o vício e a polarização nos usuários das mais diferentes redes sociais.

Todavia, uma das falas que melhor conduzem a questão para a novidade da Inteligência Artificial Generativa está no final do impactante documentário.

Ela foi dita por Justin Rosenstein, ex-engenheiro do Google e Facebook.

Vivemos em um mundo em que uma árvore tem mais valor financeiro morta, um mundo em que uma baleia tem mais valor financeiro morta. […] O assustador, e espero que seja a gota d’água que nos fará acordar como civilização sobre as falhas dessa teoria, é que agora nós somos a árvore e a baleia. […] Somos mais lucrativos para uma empresa se ficarmos olhando para uma tela, assistindo a um anúncio, do que se estivermos vivendo a vida de forma significativa. E estamos vendo o resultado disso. Estamos vendo empresas usando uma poderosa inteligência artificial para nos superar e descobrir como atrair nossa atenção para o que querem que vejamos, em vez do que condiz com nossos objetivos, valores e nossas vidas”.

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Dilema das Redes: o lado sombrio das big techs e a tragédia do algoritmo.

A Inteligência Humana nunca foi tão necessária

Todos os receios sobre a IA Generativa foram e são importantes para trazer à tona debates sobre regulamentação e os impactos das novas tecnologias em relação à participação delas no mercado de trabalho.

Seremos dominados pela IA Generativa ou ainda temos chances de usá-la a nosso favor?

A segunda opção até agora tem sido a melhor aceita e difundida. Se o choque inicial foi importante para despertar a sociedade e governos, agora é hora de assimilá-la e usufruir de sua capacidade de gerar dados — com muito cuidado e cautela, claro.

É muito cedo para discutir se ela realmente causará grande impacto em demissões diretas, porém, uma coisa é certa: ela ainda é limitada

Veja alguns pontos cruciais sobre a relação da IA Generativa x Inteligência Humana:

  • Para redatores e jornalistas, ainda está longe da IA Generativa acertar um tom de voz ideal para diferentes necessidades de textos e roteiros;
  • Para criadores de conteúdos, o chatGPT pode ser um grande apoiador para briefings, planejamento e conteúdos;
  • IA Generativa não pode ser usada para estratégias de vendas, inteligência de mercado e quaisquer questões mais complexas em empresas, ou seja, ela ainda é um apoio operacional;
  • Antes de se apoiar cegamente na IA Generativa, reflita sobre a sua necessidade de uso, levando em conta questões como plágio, erros gramaticais e até de conceitos;
  • Aprenda a perguntar de forma que extraia da plataforma ideias e conteúdos realmente assertivos e inteligentes, afinal, ela é uma máquina que precisa dos comandos corretos para ser usada como diferencial competitivo.

Voltando ao artigo publicado por Harari, Harris e Sarkin, eles encerram fazendo um apelo aos líderes mundiais. “O primeiro passo é ganhar tempo para atualizar nossas instituições do século XIX para um mundo pós-IA e aprender a dominar a inteligência artificial antes que ela nos domine.”

Trazendo a questão para uma realidade cotidiana: vale todo profissional se acalmar e entender que é normal temer algo novo, mas que tal dominar a tecnologia ao invés de se deixar dominar por ela?

A Inteligência Artificial Generativa pode ter sido uma vitória do Algoritmo e sua evolução, mas não se engane, ainda temos o poder de escrever as próximas páginas desse livro ainda em branco. Depende apenas da nossa responsabilidade, ética e criatividade.

IA Generativa: Oportunidade ou rivalidade?
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