Um ônibus cheio de sonhos olímpicos partiu do Rio rumo a Curitiba. Nele, atletas da Ginástica Artística do Flamengo dormiam para acordar em um intenso ritmo de seletivas para o Pan-Americano da Bolívia e para o Mundial da Suíça. Naquela madrugada de um dia de maio de 1997, uma carreta atravessou o canteiro central da Dutra e se chocou de frente com o ônibus, deixando alguns mortos e vários feridos. Entre eles, Beatrice Martins que, aos seus 16 anos, era uma das grandes promessas brasileiras para a Olimpíada que se seguia, ao lado de Daniele Hypólito.
Depois de muitas cirurgias, tratamentos e acompanhamentos psicológicos — e até ficar seis meses sem pisar o chão –, Beatrice se viu obrigada a encerrar sua carreira de atleta. Ainda assim, a séria lesão no pé direito não a impediu de iniciar atividades circenses, especializando-se em acrobacias aéreas.
Ontem, Beatrice estreou a dança, a interpretação e a poesia de sua história, da tragédia à superação, no palco da Funarte, com o espetáculo ‘PORUMTRIZ‘.
Com delicadeza no texto, precisão na trilha sonora, força nos gestos, e verdade na atuação, deixou-se o drama apenas para a iluminação teatral, que banhava a atriz, bailarina, trapezista, ginasta que se viu ali.
‘PORUMTRIZ’ é o alinhavar poético do risco de morte sofrido pela atleta e encarado, hoje, a todo tempo, pela artista circense.
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O espetáculo segue em cartaz, hoje (17) e amanhã, na Funarte, no Eixo Monumental de Brasília – DF.
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“Pouco tempo antes, o ônibus bateu na carreta. Quer dizer, a carreta bateu no ônibus. Pouco depois, ela acordava no asfalto com um anjo perguntando o telefone de casa. Pouco antes, cortariam sua calça jeans favorita. O osso exposto. Nada doía. Imediatamente pensou na Olimpíada. Logo antes, todas as pessoas que estavam na sua frente morriam. Deste momento, ela não se lembra de nada. Picotou a pele, raspou o osso, amarrou, grudou, costurou carne. Pouco tempo depois, já era outra…”
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