Padrão não importa. Perfeição, sim, importa.

Por que beleza importa? Essa era a pergunta que Stephan Sagmeister, designer austríaco reconhecido pelos seus trabalhos que poderiam com certeza ser chamados de obras, veio responder. A sensação era de que ele respondia por todos nós. A plateia que se espremia no bar American Greeting, não piscava diante da sinceridade que Sagmeister usava pra responder a essa pergunta tão fundamental, mas que, como ele mostrou, nos últimos séculos (20 e 21) perdeu a relevância.

Dois dias antes, outra plateia também demonstrava profunda admiração no Austin Convention Center. Emily Weiss, fundadora e CEO da Glossier, recebia no lugar de perguntas, depoimentos de gratidão sobre a iniciativa ao fundar a marca. Emily, que já tinha o site de beleza Into the Gloss, fez diferente quando decidiu criar uma linha de cosméticos. Lançou a marca sem nenhum produto. Por que? A proposta de valor da marca, ”produtos de beleza para a vida real”, era quebrar o ciclo de padrão estabelecido na indústria de beleza. Emily observou uma tendência à alienação das meninas sobre si mesmas no momento de compra de maquiagem, ao escolherem por produtos que seguem um padrão longe do natural e não têm correspondência com o que sentem sobre si mesmas e sobre suas verdadeiras formas de expressão. Por isso, Emily lançou a marca antes no Instagram (@glossier), do que no mercado. O intuito era postar e perguntar, interagir e entender do público, quais eram, antes dos padrões, as suas verdadeiras necessidades. O resultado foi tanto a criação de uma comunidade engajada, incluída e representada, quanto produtos contextualizados. Fiéis às necessidades do público: colocam a saúde da pele antes do efeito maquiagem, dão efeito real ao invés de carregado e são fun ao invés de sexy.

Dentre os pontos que Sagmeister levantou, a padronização também veio contrapondo a beleza. Em diversos lugares do mundo, da Ásia à África, o conhecido e globalizado padrão arquitetônico de prédios altíssimos com linhas retas e envidraçados, substituiu as arquiteturas locais, que, por serem naturalmente contextualizadas, eram precisamente adequadas ao clima e às necessidades regionais. O resultado é uma sensação clara de desvalorização e falta de senso de pertencimento. Ao vivo, aplicou com a plateia um teste originalmente aplicado pelo psicólogo Chris McManus, da University College London, em que, alterando um pouco o equilíbrio de uma composição de um Mondrian real, perguntava ao público qual era a versão falsa e qual era a verdadeira. Mais da metade, 55% a 60%, respondeu pela original. No nosso caso, ali na plateia, eu diria que mais de 75% em duas chances de teste, optaram pela verdadeira. Isso mostra que temos um senso natural por decodificar pela beleza, o que é real.

Qual desses é real?

1Mondrian

A resposta está no final do artigo*

A padronização nos alienou da perfeição. Hoje, parece que o que não está correto e dentro do padrão não é perfeito. No entanto, a padronização resultou em cenários onde o contexto e as reais necessidades não são respeitados e os olhos se acostumam a serem enganados. Representa um desencontro entre o que é realmente necessário por quem demanda, pelo que é oportuno para quem oferta e, assim, substituiu, em algum momento, a nossa preferência pela perfeição.

A perfeição, reaparece tanto nos pontos de Sagmeister, quanto no espírito da Glossier, no reconhecimento de que, se a relação necessidade e solução é verdadeira, é também bela.

Ver beleza é conseguir ver, de novo, a perfeição.

*O verdadeiro é o da esquerda.

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