Nunca é fácil, e pode vir de forma repentina ou mais gradualmente – mas, se a vida seguir sua ordem natural, vai existir um momento em que nos tornamos pais dos nossos pais. Um choque para quem sempre recebeu cuidados, e uma carga de responsabilidade inesperada nos aguardam.
Um dia Melissa Spitz se deu conta de que tinha que cuidar de sua mãe, Debbie, cujos diagnósticos de transtorno mental mudaram ao longo do tempo. A série “You Have Nothing To Worry About”, atualizada constantemente com imagens lindas e perturbadoras na conta do Instagram, retrata o relacionamento das duas, permeado por amor e cuidado, mas também por conflitos e distanciamento em função do comportamento errático, às vezes agressivo, da mãe.
Em uma entrevista à revista Dazed no ano passado, Spitz afirmou que nunca existiu uma decisão consciente de fotografar a mãe, mas que o processo a ajudava a encontrar uma razão para voltar mais facilmente para casa e ainda assim manter um distanciamento da situação – um distanciamento físico, colocando uma câmera entre ela e a cena.
“Para mim, os transtornos mentais têm um rosto e um nome – minha mãe”
Ela conta que o processo, iniciado em 2009, fez com que as duas se confrontassem com a realidade: “Algumas vezes eu sabia que ela não estava sóbria, e ela definitivamente não se lembrava das nossas sessões de fotografia”. Ela explica que conforme o tempo foi passando, a mãe admitiu que às vezes as imagens a assustavam, porque Debbie não reconhecia a ela mesma e a algumas coisas que aconteciam na sua casa, como queimaduras, buracos e objetos danificados.
Spitz diz, sobre a série: “As fotografias são ao mesmo tempo perturbadoras e encorajadoras; honestas e teatrais; amorosas e odiosas. Correspondente ao diagnóstico atual da minha mãe como bipolar, juntar esses opostos aparentemente binários é a única forma de fazer retratos remotamente válidos dela. Ao apontar a câmera para minha mãe e meu relacionamento com ela, eu capturo seu comportamento como um eco da minha própria resposta emocional. As imagens funcionam como uma conversa contínua.”
Apesar do processo doloroso, Spitz encontrou nas fotografias uma forma de criar empatia e dar visibilidade às pessoas com transtornos mentais. Ela espera que suas fotografias estimulem um debate sobre essa questão, e que haja mais apoio aos familiares dessas pessoas, especialmente as crianças. “Para mim, os transtornos mentais têm um rosto e um nome – minha mãe”.
Siga You Have Nothing To Worry About no Instagram (dica: use formato “grid” ou o desktop para ver as imagens grandes), e veja o website de Melissa Spitz aqui.
https://www.instagram.com/p/uBJajZPQiT/?taken-by=nothing_to_worry_about
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