Já deu de tela

Nossa vida através de telas está saturada, atingimos o que a indústria da tecnologia tem chamado de “peak screen”. E agora?

Digital Addiction 1
peak screen

tela1Tudo começou ali pelo final da década de 90. Mas foram nos últimos 11 anos que a coisa tomou conta da nossa vida. A coisa, no caso, são as telas.

Desde o lançamento do iPhone, os smartphones simplesmente mudaram por completo diversos aspectos da nossa vida e na maneira como interagimos com o mundo, basicamente através de telinhas. Música, video, notícias, conversas, fotos, táxi, livros, comida, namoro, compras, mapas, jogos, política, trabalho, tudo. Na última década reinventamos absolutamente tudo no modo como consumimos mídia, relacionamentos e a nossa própria realidade.

E tudo através de telas.

Mas agora que todo mundo já tem um smartphone – e que todo smartphone já tem todo mundo – parece que paira no ar uma sensação de saturação.

As vendas de smartphone no mundo estão chegando a um platô, mas não por desinteresse. O motivo é outro: todo mundo que pode comprar um, já comprou. Estamos todos abastecidos e equipados. Todo mundo fazendo um bronzeamento artificial com luz azul.

Estamos olhando demais para as telas. E pior, por qualquer motivo, qualquer bobagem. A média americana, e a nossa não deve ser muito diferente, são 4 horas por dia encarando o celular. E 11, qualquer tipo de tela.

A indústria da tecnologia tem chamado este cenário atual de “Peak Screen”, o pico de telas. Não é por acaso que gigantes como a Apple e o Google estão desenvolvendo softwares para ajudar as pessoas a usarem menos seus smartphones. Sabem que o excesso é ruim no relacionamento com seus consumidores. E depois de uma década de inovações nos aparelhos e de um cardápio gigante de apps, sabem também que nossa capacidade visual está praticamente esgotada. Tirando as horas de pálpebras fechadas, quando se abrem, nossos olhos mergulham imediatamente na piscininha de luz.

O que dá para comer com os olhos, já estamos comendo.

A rota conteúdo>tela>olhos>cérebro congestionou. Estrada em volta de feriado. O nível de atenção e imersão é inédito na nossa história. E por isso a base para a próxima revolução já está sendo montada: um aparato tecnológico com menos recursos visuais e uma cena digital mais diversificada através de assistentes de voz, headphones, relógios e outros “wearables” capazes de poupar um pouco os nossos olhos.

Ainda é difícil imaginar que essa extensão de canais possa ter uma presença tão intensa na nossa rotina quanto a das telas. Mas estamos apenas no começo do desenvolvimento de um ecosistema mais inteligente, menos invasivo, menos imersivo, menos viciante e mais coadjuvante. Algo que de fato aparelhe nossa vida ao invés de dominá-la.

Claro que sempre existe o risco das coisas piorarem ainda mais se as pessoas simplesmente somarem esses possibilidades. E por isso é importante criar de fato alternativas capazes de substituir as telas com vantagens. Quem já usa assistentes de voz com frequência já consegue perceber que é um caminho viável, inclusivo e extremamente promissor. Abrir a boca e pedir uma música é muito mais fácil do que ficar clicando em telas. Mesma coisa com os relógios e fones como os AirPods, que têm conseguido trazer coisas que antes só os celulares traziam. Muitos acreditam que a ideia da Apple é mesmo criar uma alternativa completa aos iPhones.

Não é difícil imaginar como podemos ir nos liberando. Pense no quanto as telas mobiles já nos deram de liberdade quando comparadas aos desktops. Não precisamos mais ficar sentados em uma mesa. E indo além, também não vamos precisar necessariamente de uma tela. Isso já era prevista há muitos anos, mas agora parece que chegou a hora.

Se essas iniciativas funcionarem, nossa vida deve mudar completamente mais uma vez. As telas são como vampiros, basta olhar para ficar hipnotizado. Elas têm um domínio excessivo sobre nós e demandam uma atenção plena que acaba sequestrando boa parte do nosso cérebro e do nosso tempo. Estudos da University of Texas mostram que a simples presença do celular já reduz nossa capacidade cognitiva significantemente. A tentação é tão grande que é preciso gastar uma energia mental absurda só para não pegar o bichinho.

Quer outro exemplo da saturação das telas?

O tesla Model 3, o carro elétrico do Elon Musk, o veículo que mais chama atenção no planeta atualmente. Pois bem. Diversas pessoas tem dado um feedback muito negativo pelo excesso de telas para todo e qualquer ajuste no carro. Até para ajeitar os espelhinhos você precisa colocar seu dedo em uma tela. Botões de verdade e interações táteis, que dispensam olhar, estão deixando saudades. telas parecem estar sendo percebidas mais como recurso estético do que como funcionalidade. já não estamos tão deslumbrados com elas, já não são sinônimo automático de modernidade.

Outro exemplo? Realidade aumentada.

A gente acha bonitinho, mas também acha que tem cara de truque barato. Um gimmick. Claro que uma máscara digital de cachorro na sua cara é divertido, mas por 5 minutos. Ao invés de realmente cumprir uma promessa de mistura entre o real e o virtual, a realidade aumentada tem apenas usado o mundo ao seu redor como background de algo que ainda nos mantém colado a uma tela. Então nem é realidade aumentada. é tela turbinada por realidade.

Na última conferência da Apple aconteceu algo muito engracado. O Martin Sanders, executivo da Lego, mostrou a nova coleção de Legos com realidade aumentada. Você monta lá sua casinha ou carrinho com os Legos de verdade e depois aponta seu celular para eles. Na tela, em vota do brinquedo que você construiu, surgem toda uma cidade digital. Ou seja: o oposto do que era um Lego. A intenção sempre foi a interação física e a imaginação. E agora virou mais um game de tela.

Enfim, que venha logo esse novo mundo com menos telas. Quanto mais cedo acharmos uma alternativa, melhor. Um sistema que funcione ao nosso lado e não na nossa frente o tempo todo. Um mix tecnológico que vá ficando invisível e menos imersivo, para que a gente consuma mais coisas relevantes e use tantas ferramentas legais para sermos mais produtivos e inteligentes. Que nos aproxime das pessoas que queremos ter por perto e que nos permita chegar aos fins sem sem se enroscar tanto nos meios.

Deu pra ti, tela.

 

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