Júpiter Maçã do Rock nacional

Ontem faleceu um dos músicos mais geniais do Brasil.  Infelizmente Flávio Basso, mais conhecido como Júpiter Maçã, morreu precocemente, com apenas 47 anos. Mas ele deixou um trabalho incrível que já está eternizado.

Percebo que muitos veículos estão noticiando Jupiter Maçã como um “Ícone do Rock Gaúcho”. Mas como Pernambucano que mora em São Paulo, afirmo (sem dúvidas) que Júpiter Maçã ultrapassou barreiras, de norte a sul do Brasil.

Claro que ele tinha uma importância imensa para o que conhecemos como “Rock Gaúcho”, mas não podemos dizer que ele era só do Rio Grande do Sul. Perdemos Júpiter Maçã, um dos artistas mais criativos do Brasil e que o Brasil já pode ter.

https://www.youtube.com/watch?v=TOJnrxc6HPE

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Com apenas 16 anos, Flávio juntou-se a primeira formação da banda de rock TNTe dois anos após fundou a banda de rock Cascavelletes. Ele era um daqueles “como John Lennon”, que vivenciaram o rock desde muito cedo. 

Como se já não bastasse ser um músico precoce, essas duas bandas (junto com o Graforréia Xilarmônica) influenciariam muitos artistas na região sul do país – entre eles bandas como Cachorro Grande, Bidê ou Balde, Video Hits, entre tantas que são consideradas essenciais para o “rock dos pampas”.

 

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Flávio Basso à esquerda e Marcelo Birck (Graforréia Xilarmônica) no Estúdio Dreher. + ou – 1998.

 

A piada e o sarcasmo no rock brasileiro também já existiam muito antes de Raimundos e Mamonas Assassinas, e tudo isso por culpa (ou graças) a mente imunda, ousada e sem limites de Flávio Basso e seus companheiros. Em “O dotadão deve morrer” você pode perceber o caráter “The Zuera Never Ends” presente nos anos 80.  

A banda Cascavelletes ficou conhecida por criar seu estilo próprio, denominado como “porno rock”. Em 1987, junto com “Júlio Reny e Expresso Oriente”, “Apartaid”, “Justa Causa” e “Prize”, participaram de uma coletanea intitulada “Rio Grande do Rock”, na forma de LP em vinil, lançada no Brasil no inicio de 1988 pela gravadora holandesa SBK, que posteriormente foi incorporada pelo selo EMI, proporcionando a entrada dos Cascavelletes no mesmo.

Nesse época ele também compôs lindas canções folk  junto com seu companheiro de banda Nei Van Soria; hits cheios de morbidez e sentimentos. “Sob Um Céu de Blues” e o “O Lobo da Estepe” são quase hinos.

https://www.youtube.com/watch?v=vyBVQOzGPK0

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Flávio Basso, primeiro à direita, ainda na banda “Os Cascavelletes”.

Mais tarde, a banda Cascavelletes acabaria, e Flávio faria sua maior ruptura musical.  Surgiria então “Júpiter Maçã” – pseudônimo ou alter-ego, que faz menção ao maior planeta do sistema solar, e também homenagem a lendária  Apple Records, gravadora dos Beatles.

Seu primeiro disco, “A 7ª Efervescência” trouxe ao rock brasileiro o seu representante máximo de psicodelia desde a banda Mutantes, ganhando reconhecimento no underground do Brasil todo.  A canção que abre o disco, “Um Lugar do Caralho” é um hit do underground. 

Abaixo você pode conferir o disco completo.

 

https://www.youtube.com/watch?v=TgOsQYoyEgc

 

No seu trabalho posterior todo em inglês, Plastic Soda,  o então “Jupiter Apple” ganharia fãs na França, Espanha e em outros países da Europa, propondo uma mistura de Bossa-Nova, Rock e muita lisergia. Plastic Soda não agradou muitos por ser um disco de vanguarda, que não tem nenhum compromisso em ser pop. E para Jupiter isso não era ruim.

A busca por inovação de Júpiter o fazia ser artista em sua essência. Ambos discos foram extremamente cultuados por fãs de vertentes mais experimentalistas e psicodélicas do rock. Ele buscava realizar-se como artista – no sentido literal, ele era aquele que fazia arte de verdade, e tentava estar a frente do seu tempo.

Júpiter Maçã (as vezes Apple, Flávio Basso sempre) bebeu das fontes experimentais e psicodélicas da música como ninguém. Nele existia genialidade e elementos que só encontramos em músicos como Brian Wilson, John Lennon, Syd Barrett, Arnaldo Baptista e Daniel Johnston.  Ele foi um daqueles que escolheriam o caminho da criatividade – mesmo se esse fosse um destino tortuoso e difícil. Nesse destino que pudemos encontrar a plenitude artística, de uma pessoa que fazia arte por amor e não se vendia e nem pretendia ser um mero produto de consumo.

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Júpiter diante da multidão (por André Peniche)

 

Abaixo relacionei vídeos de todas as suas fases. Também alguns vídeos de entrevistas ultra non-senses (medonhamente engraçadas) e uma entrevista no seu divertido talk-show, que fez parte da programação na extinta MTV Brasil.

Nos vídeos musicais selecionados, é fácil perceber a versatilidade e a conversa de estilos que Júpiter propôs em sua carreira; seja fazendo algo punk e folk nos primeiros anos, ou até mesmo misturando bossa-nova, psicodelia e música eletrônica em sua fase intermediária; em seu último trabalho voltando ao folk, fechou um ciclo, como uma despedida.

Me despeço do post triste por perdermos um artista como esse…mas ao ver seu belo trabalho, fico feliz por ter conhecido suas diversas facetas e possibilidades. Foi um prazer, mestre Júpiter.

Jupiter em um de seus trabalhos mais recentes, They’re All Beatniks

https://www.youtube.com/watch?v=lYK-7bCp5X0

“Jupiter Maçã Show”, o Talk Show do Jupiter na MTV Brasil

“Demo” da banda TNT, com Júpiter Maçã nos Vocais. 

Júpiter ainda nos Cascavelletes. 

Júpiter Maçã no Programa LADO B, da MTV. 

Jupiter Maçã em um dos seus hits, fazendo marchinha de carnaval 

https://www.youtube.com/watch?v=g-XxDqimpw8

Um de seus últimos trabalhos, Mordern Kid

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