Os 6 meses mais inúteis da minha vida

A ficha caiu segunda-feira passada.

Depois de um dia tranquilo, chegar em casa cedo não seria um segredo. Jantaria com meus pais, daria as caras na academia e quem sabe até assistiria um filme.

Tudo começou no metrô. Era sete da noite e eu já esperava por um trem. Comparado a outros dias, tudo parecia sob controle, indicando que seria um começo de semana perfeito.

A única coisa ruim era o trem que havia pego. Era daqueles azuizinhos antigos e sem ar condicionado. O que não ajudava, pois naquele dia, fazia um calor que não era de Deus. E pra piorar, era horário de pico, ou seja, tinha bastante gente. Tudo mundo bem juntinho compartilhando do mesmo suor.

Até aí tudo bem. Na minha cabeça eu ainda chegaria cedo e faria todas aquelas coisas que havia combinado comigo mesmo.

Já tinha passado mais da metade do trajeto. Faltava só umas três estações pra chegar. Estava certo de que em instantes sentiria aquele vento na cara e aquele suor tímido iria embora.

Aconteceu que, logo depois do fechamento das portas, aquela voz que ninguém gosta de escutar veio à tona, dizendo:

– “Senhores passageiros, ficaremos parados por tempo indeterminado, devido a objeto na via na estação seguinte.”

– “Ok, não entremos em pânico, vai ser rápido – pensei.”

Deu 5, 10, 15, 20 minutos e nada. Foram 45 minutos parados na mesma estação, num vagão lotado, sem ar condicionado e cheio de gente emputecida. Em menos de uma hora, toda aquela alegria havia ido água abaixo: resmunguei, briguei, xinguei, fiz o clássico tsc tsc tsc.

As pessoas ali também estavam bravas. Uns discutiam, outros reclamavam e mais alguns balançam a cabeça demonstrando reprovação. Um cara que estava do meu lado, por exemplo, começou a bater na janela com força, exclamando que toda aquela merda não era justa e que se parássemos pra pensar, já havíamos gasto muito dinheiro com aquilo.

Não sei por que, mas aquela cena foi suficiente pro meu incosciente começar a trabalhar. Tentei relembrar as vezes que já havia passado por algo parecido. E claro, conclui que foram incontáveis. Muitas mesmo.

Pra falar a verdade, uso o transporte público com frequência desde meus 18. São quase 5 anos, utilizando 6 vezes por semana, gastando de 3 a 4 horas por dia.

Foi aí que decidi fazer umas contas pra descobrir o tempo que havia passado dentro daquele lugar. Obvio, o resultado me deixou ao mesmo tempo que surpreso, ainda mais puto. Não só por ter decidido fazer tudo longe de casa, mas também por saber que fiquei tanto tempo preso num lugar tão caótico e sem a estrutura que deveria ser oferecida.

Caso estejam disposto a quebrar a cabeça calculando o tempo de “pena” de vocês, sugiro que peguem o resultado final e imaginem a quantidade de outras coisas que poderiam ter sido feitas nesse tempo. É de chorar, vocês vão ver.

Só pra terem uma noção, minha “pena” foi estimada até então em aproximadamente 6 meses. O que é bizarro pensar, pois se 5 anos representam 60 meses, aqueles 6 meses representam 10%. Ou seja, 10% da minha juventude vivida dentro de um metrô/ônibus. Já a questão do dinheiro gasto, prefiro nem pensar. Com certeza o desgoto vai ser bem maior que minha curiosidade.

Se optarem por investigar isso, por favor não se abalem tanto, não. Como estamos vendo, a tendência é piorar cada vez mais. O que é preocupante, porque uma hora com certeza o suor do povo vai acabar, os vidros do metrô não vão aguentar e a paciência: essa é melhor deixar pra lá. Aguardemos.

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