Todo mundo vai morrer, mas tá tudo bem.

Use links. Essa foi uma das dicas que recebi quando soube que ia contribuir com o Update or Die no meio de um monte de gente brilhante que participa dessa catarse coletiva que é o South by Southwest e compartilha suas experiências por aqui. A audiência que acompanha o Update or Die é curiosa, cheia de repertório, conhece bem o evento e não aguentaria mais um texto falando: “Meu deus, o FOMO é inacreditável”.

Não vou fazer isso, prometo.

Hoje de manhã, enquanto eu perdia sem pudor o último dia de Interactive pra conseguir ficar no hotel e resolver algumas coisas da agência, passei um tempo browseando as páginas do UoD pra descobrir o que meus colegas compartilharam sobre o que viram nesses dias no Texas. Até que achei o texto do Leonardo Amaral sobre Sausage Party, uma animação para adultos que lembra Toy Story porém de forma bem mais sanguinária.

No filme, as comidas sonham em ser escolhidas e levadas para nossas casas, sem saber que na verdade elas só chegam aqui pra morrer de forma bem cruel. Engolidas vivas. Escalpeladas. Degoladas. Elas ficaram bem angustiadas quando descobriram isso, pois até então achavam que iam viver uma vida de glórias e depois subir à eternidade ou alguma coisa do tipo.

O nosso caso é um pouco diferente. Nós humanos sabemos desde bem cedo que vamos morrer, mesmo que muitos acreditem que depois disso a gente segue sim rumo à vida eterna, amém. Independente do nosso credo, a morte vai sempre fazer parte da nossas vidas, então o desapego forçado é fundamental pra uma existência minimamente sã. E, por mais esquisito que possa parecer, eu tenho a sensação de que o SxSW tem muito a ver com esse nosso esclarecimento.

Falar de tecnologia, música e arte, na minha opinião, é falar sobre todas as coisas que a gente tenta diariamente fazer pra prolongar nossa existência nesse planeta. Seja desenvolvendo uma tecnologia única de inteligência artificial que ajude robôs a identificarem sentimentos humanos, como a Dr. Rana el Kaliouby anda fazendo na Affectiva, seja procurando estabelecer marte como uma colônia sustentável, como a equipe da NASA tem feito (em concorrência / parceria com as equipes do Elon Musk) ou seja construindo músicas, filmes e histórias como milhares de pessoas que andam por essas ruas fazem diariamente.

A minha sensação, quando junto todas as vezes que já vim aqui e o repertório que construí ao longo do tempo sobre esses assuntos, é que as nossas maneiras de nos mantermos vivos estão evoluindo a passos largos. Construir música é cada vez mais fácil, gravar a própria vida é cada vez mais acessível, criar, distribuir e eternizar conteúdo cada vez mais intuitivo.

Com isso a gente começa a observar o surgimento de gerações progressivamente destemidas, que já nascem com menos medo da morte porque têm uma consciência muito maior de suas imagens e de tudo que já eternizaram. Assim eles conseguem espaços para questionarem todas as caixas, símbolos e rótulos que as gerações anteriores construíram para deixar o universo um pouco menos confuso.

Na verdade o que eu acabo entendendo, cada vez que saio de Austin, é que a gente já aceitou que o universo é confuso, mesmo. Tremendamente confuso. Mas hoje temos muito mais confiança nas nossas habilidades de conduzi-lo. Talvez pisar na lua tenha sido o primeiro passo pra isso, ou fazer um robô ganhar um jogo de “Go”, mas o principal é que hoje a nossa capacidade de interagir com outros e controlar nossa identidade é infinitamente maior do que há 100 anos e essa confiança (ou arrogância) exerce um efeito gigantesco sobre a nossa percepção a respeito da vida e da morte.

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