Neste último fim de semana, assisti a peça “Com amor, Brigitte”, baseada na vinda da atriz francesa ao Rio de Janeiro no início dos anos de 1960.
Com direção de Fábio Ock e texto de Franz Keppler, a peça traz vários elementos da relação entre a juventude e o medo do envelhecimento e o desejo e a repulsa da fama.
A história mostra uma Brigitte Bardot, lindamente representada pela atriz Bruna Thedy, cansada da perseguição de fãs e jornalistas que só querem fazer perguntas fúteis e cobrir suas tentativas de suicídio ou dessabores da vida. Nos anos 60 não havia redes sociais, mas o início da recuperação do trauma pós-guerra começa a dar uma nova visão de mundo aos jovens da época. A liberdade começa a tomar o lugar da segurança e o narcisismo contemporâneo fica cada vez mais evidente.
Na adaptação, Brigitte foge do Copacabana Palace com a ajuda de um camareiro que domina bem o francês, interpretado pelo ator André Corrêa, e se esconde por poucos dias em seu apartamento até a sua famosa viagem a Búzios.
No pequeno imóvel, Bardot mostra toda a fragilidade e insegurança que tem diante do mundo. Seu medo do futuro é representado pela frase repetida diversas vezes: “a velhice é uma tarde fria de outono”. Dorian Gray, personagem de Oscar Wilde, já mostrou as consequências que a obsessão pela eterna juventude pode trazer e não muito diferente da atriz, não conseguiu o feito sobre-humano.
Todos somos um pouco Brigitte, não no sentido da beleza de sua juventude, infelizmente, mas na busca do “forever young” e do choro com a falta de privacidade. O que não percebemos de forma tão clara, é que se os likes do século XXI pararem e os aplicativos saírem do ar, entramos em pânico. O que não nos é evidente, é que muitas vezes não nos importamos nem com o nome de quem nos ajuda, como o caso do camareiro Álvaro, que se enche com o egoísmo da atriz.
Se somos vaidosos, ou vazios (significado real da origem da palavra vanitas), não é por conta dos smartphones e das mídias sociais, mas por causa de um mundo pautado pela busca da fama e do poder, onde a audiência do espetáculo só acontece para suprir essas patologias contemporâneas. Se não nos mostrarmos competentes, antenados e com sucesso, é como se não existíssemos no mundo. Mas não é todos os dias que nasce uma Brigitte Bardot e, como diz a música, ela mesma não podia ser um sonho para nunca envelhecer.
A boa notícia é que a peça fica até o final de junho no Masp, em SP.