Somos Todos Estagiários

Este ano completo 10 anos no mercado de comunicação, muito pouco perto do que tenho pela frente. Como a maioria dos profissionais, tive experiências como estagiário. Naquela época, por mais recente que seja, ainda não existia o Iphone, que surgiu em junho de 2007. O que já existia e vejo se intensificar é a lista de competências que as empresas pedem para o cargo de estagiário: programação, criação de conteúdo para mídias sociais, edição de vídeo (muitas vezes complexa) etc. Resumo da ópera,  as companhias querem um jovem que está começando no mercado com características de um profissional com certa experiência dentro dele. Nem preciso entrar em detalhes de salário, certo?

Como professor de universidade, vejo que cada vez mais, muitos alunos chegam com um conhecimento técnico prévio que não existia na mesma intensidade de quando me formei. O paradoxo é o molejo e a quilometragem que o mercado pede. Isso não se adquire sem os sofrimentos, decepções e erros que cometemos ao longo de toda a nossa carreira.

Estamos em um mundo muito dinâmico. Os livros sobre tecnologia e mercado lançados hoje, muitas vezes já não valem mais daqui 18 meses. Temos que fazer reedições e atualizar as informações na mesma velocidade de suas transformações. Somos estagiários o tempo todo em um mundo que o aprender ocorre a cada vez que ligamos o computador.

Um dos lemas das empresas com um RH moderno é contratar o caráter (mais sólido) e treinar as habilidades (efêmeras). Fico chateado quando vejo erros em páginas em redes sociais ou títulos ousados e os comentários mais curtidos são mais ou menos assim: “olha lá o estagiário de novo”. Só os novatos erram? Conheço novatos que acertam mais do que muitos dinossauros.

Com o passar dos anos, criamos bagagem, melhor capacidade de negociação, aprofundamento da oratória, ideia do que dá mais certo etc., mas nunca eliminamos a nossa possibilidade de erro. Já errei e continuo errando e isso não deveria ser vergonhoso. Esse medo paranoico da falha tem causado a ausência de grandes possíveis acertos criativos no mercado comunicacional.

Me lembro quando o Jacques Lew (da Lew´Lara/TBWA) virou estagiário do Google aos 70 anos de idade. A mensagem que ele estava passando era: você sempre tem algo a aprender, não se sinta envergonhado por isso.

jaques 300

Se permitir a desenvolver novas habilidades e ser múltiplo é enfrentar o eterno estagiário que o novo mundo pede em você. Se na nossa era, nada foi feito para durar, como diz Bauman, tudo são estágios. Somos todos estagiários. Cabe enfrentarmos os novos críticos, ter coragem e quem sabe um dia termos essas três letras “CEO” na assinatura do nosso e-mail, mesmo sabendo que isso não é total verdade.

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