Sempre suspeito quando a palavra equilíbrio aparece no discurso de alguém. Viver na desmedida sempre foi o natural, mesmo porque a medida precisa sempre ser atingida, como um budista que busca o caminho do meio.
Andando por algumas avenidas de São Paulo, me deparo com uma intervenção artística curiosa: carrinhos de supermercado gigantes no meio dos canteiros centrais com suas frentes amassadas ou enterradas no chão. Ao fazer uma pesquisa, descubro que a ação partiu do artista paulistano Eduardo Srur em parceria com um e-commerce de assinatura, o HomeRefill, focado no “low consumerism” ou “consumo equilibrado”.
Não faço uma crítica ao site, muito pelo contrário. Eles perceberam uma forma de se relacionar com o cliente através de uma estratégia de marketing 3.0, que segundo Kotler, além de atingir o consumidor, também beneficia a sociedade, fidelizando seu mercado-alvo e fazendo com que ele se sinta menos culpado ao passar o Mastercard.
O consumo desenfreado é de fato um problema na nossa sociedade e muito difícil de ser corrigido. Bauman já afirmou em “Vidas Desperdiçadas” que todos os dias dois caminhões saem das fábricas: um para a loja e outro para o depósito de lixo.
Um fato é que se pararmos de produzir ou de consumir o sistema quebra. Essa bipolaridade é quase como o paradigma político de aumentar as faixas e a frota de ônibus e abaixar os impostos dos carros ao mesmo tempo.
Se há uma microtendência de um consumismo mais moderado em nossa sociedade, como afirmam alguns coolhunters, muito se dá à crise financeira e não a um real desejo das pessoas de obterem produtos mais duradouros ou menos banais. O consumo é a nossa terapia e as magazines os novos templos religiosos, como disse o filósofo francês Gilles Lipovetsky em “A estetização do mundo”. O desejo do consumo está à frente das necessidades básicas há muito tempo e sua banalidade é um dos combustíveis premium do ser pós-moderno, que sem a divulgação das suas aquisições, não consegue nem sair de casa para trabalhar.