A fábrica da imaginação

O dilema do criativo quase sempre são as contas que precisa pagar

A criança nasce sem medo. Na infância usamos todas as oportunidades que temos para explorar o mundo. Infelizmente, somos sufocados com uma série infinita de mitos, costumes e padrões de comportamento que nossos pais nos impõem, desde os primeiros passos. A diferença da qualidade do “medo” que vamos sentir e o resultado disso dependerá do formato como somos criados. Uma família que não impõe limite algum vai permitir que a criança conheça o mundo sem nenhum mapa. Em um lar em que haja regras demais, serão desenvolvidas pessoas que sentirão um medo descompensado, que os obrigarão a acreditar apenas nos favores das regras que os governou a vida toda.

Pessoas criativas são aquelas que ou tiveram liberdade para desenvolver sua curiosidade de forma saudável ou aquelas que, de alguma forma, se rebelaram contra a cultura com a qual não concordavam. A criatividade exige reinvenção de valores. A tradição é importante para a sociedade, de muitas formas, mas para haver progresso positivo há também que haver liberdade criativa, para repensarmos as bases que governam todas as instituições sociais.

A ignorância é um estado. E isso nos possibilita vias de aprendizado, das mais variadas formas. Todos nós, como seres humanos, somos ignorantes. Por mais que você saiba sobre o mundo, ainda assim vai ignorar um aparente invisível oceano de conhecimentos que só poderá se mostrar caso essa ignorância o incomode. É o incômodo que faz a diferença. E ele tem a força da curiosidade que desenvolvemos no decorrer de nossa vida, principalmente aquela estimulada na infância.

O cérebro infantil busca ardentemente conhecer o espaço, o ambiente, as pessoas e a linguagem ao seu redor. É uma estratégia de sobrevivência. Se, nesse momento de evolução e emancipação de sua “ignorância” lhe forem colocados empecilhos, barreiras e punições constantes e sem justiça que o valha, mataremos a sua criatividade, que beberia da curiosidade que lhe será roubada, em uma época que nem mesmo pôde lutar por ela.

A maior habilidade de uma pessoa criativa é a curiosidade. Sem sombra de dúvidas. Mas, como nada é tão simples assim, imagine que apenas ser curioso não torna ninguém criativo. A curiosidade precisa de disciplina, de regras, de orientação, de bom senso. Sair pelo mundo, curioso, em busca da novidade pela novidade não vai levar ninguém a lugar algum. Claro que a curiosidade como terapia é um excelente catalisador da criatividade.  No meio de qualquer projeto, de uma busca, uma pesquisa, um estudo, uma criação nova, sempre vamos esbarrar em bloqueios criativos; e é nessa hora que devemos sair pelo mundo, curiosos, sem saber o que fazer, pelo simples prazer de relaxar. As melhores repostas podem vir dessas improváveis pausas.

Empreendedores são essencialmente pessoas que erram. E erram muito. E disso depende a criatividade deles. Quanto mais errarem, e quanto mais aprenderem com isso, mais ricas serão suas experiências e a capacidade de criar coisas novas. A sua imunidade emocional estará fortalecida. Não existe lugar seguro para quem quer empreender. E isso é bom. Zona de conforto nunca fez bem a ninguém. Cada erro nos ajuda a adaptar o negócio, a ideia. Aperfeiçoar é a melhor estratégia, e isso depende do reconhecimento das falhas e das atitudes corretivas. Acreditar piamente em uma ideia rígida e infalível é assinar o próprio atestado de óbito.

No mundo em que vivemos é perigoso ser criativo. Ironicamente, quanto mais buscamos ser criativos, mas problemas enfrentamos. Esse mundo ainda não está pronto para o espírito livre da criatividade. Os criativos ainda sofrem com a depressão que os assolam pois são muitas vezes incompreendidos. Um animal selvagem aprisionado tem um rugido fraco, nunca comparado com o predador que reina na savana aberta. O dilema do criativo quase sempre são as contas que precisa pagar. Se “inventar moda” vai acabar perdendo o emprego. Ele ou ela acabam se rendendo à pressão.

Felizmente, o mesmo mundo que criou uma massa de gente repetidora, agora precisa de gente criativa, pois para as funções que não exigem um cérebro foram inventadas máquinas. O dilema agora é: ser ou não ser criativo. Mas, o resultado disso será tornar-se um inútil, que recebe uma graninha do governo para não morrer de fome ou dar vazão à sua arte e mostrar para as máquinas que ainda há um oceano inflamável, à espera de uma fagulha capaz de mudar o seu destino. Basta um sim, um passo, mas na direção contrária, pois o criativo sempre cria o seu próprio caminho.

Criatividade é algo que se descobre. Sim. Mas, não se engane, você não vai se deparar com ela em alguma esquina da vida. Criatividade é um estado de espírito. Um exercício diário. Se você gosta de respostas prontas, saiba que a sua criatividade será questionável. A criatividade exige a releitura de tudo. Isso não é negociável. Se aceitamos tudo como está, nada muda, nada é criado.

Sim, você tem razão se disser que as coisas precisam de uma certa organização.

Claro que sim, mas de tempos em tempos é preciso um terremoto para que se possa ver as coisas por outra perspectiva e, daí, reorganizar tudo, encontrando novas formas de seguir em frente. Um excelente exercício para ampliar a criatividade e estimular a curiosidade é mapear a nossa rotina. Como faço o que faço? Como são meus dias? Questione-se sobre as suas práticas diárias. Experimente novos trajetos de casa para o trabalho, para a igreja, para o clube. Experimente novas amizades, e tente ouvir sobre a religião que você não concorda. Perceba que disse “ouvir”, pois se a gente fala, nessa hora acabamos criando barreiras e não criamos a novidade em nossa mente. Ler livros diferente, assistir a filmes que não gostamos, dormir em posições diferentes, enfim, oferecer a si mesmo uma experiência sensorial completamente nova.

Cada nova atitude vai ativar novas áreas em seu cérebro, catalisando novas possibilidades, e as conexões neurais estarão mais ricas, ajudando você a sentir o mundo de forma mais ampla, dando uma sensação de que é mais inteligente. A coisa é viciante. Depois que começamos é quase impossível voltar à velha vida. Como disse Einstein, uma mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.

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