O desencanto do amor: Brokeback Mountain completa 15 anos

Dirigido por Ang Lee, a obra levou três Oscar e arrebatou público e crítica

Em 1945, David Lean dirigiu um dos grandes romances do cinema. “Desencanto” mostra uma dona de casa conhecendo um médico em uma cafeteria. Ela não imaginava que pudesse se apaixonar por alguém. Tinha um bom marido, filhos, uma rotina tranquila.

Toda quinta-feira, eles se encontram nesse mesmo lugar para emprestar à rotina o calor e desejo que vivem às escondidas. O ponto de vista feminino sobre o amor, o tabu do divórcio, a suavidade do relacionamento entre os dois, que salta da curiosidade para a amizade até culminar na paixão, faz de “Desencanto” um filme inovador.

Em “O Segredo de Brokeback Mountain”, de 2005, a montanha é a “cafeteria” de Jack Twist e Ennis Del Mar, dois cowboys na década de 60, que se conhecem enquanto pastoreiam ovelhas, no interior dos Estados Unidos.

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Os atores Jake Gyllenhaal e Heath Ledger 

O filme completa 15 anos em 2020 e cresce em todas posições em que joga. É um romance natural, delicado, que jamais desvaloriza o amor e os sentimentos dos dois cowboys. É um drama impactante ao mostrar a impossibilidade de se viver o relacionamento e a atemporalidade do seu meio agressivo. E é um filme com uma temática social e política bem definida, mas desenvolvidas com muita sutileza. Ele tem bandeira.

Sem o amor entre esses dois homens “Brokeback Mountain” seria notado? Claro que sim. A direção do taiwanês, Ang Lee, é criativa, calma, atenta aos detalhes que faz seus personagens crescerem cena a cena. Venceu o Oscar com justiça. As atuações de Heath Ledger e Jake Gyllenhaal são preciosas. O roteiro, escrito por Diana Ossana e Larry McMurtry, é igualmente maravilhoso por ser tão econômico e ao mesmo tempo intenso e, certamente, a fotografia de Rodrigo Prieto está entre os grandes trabalhos do cinema.

Essa temática foi trabalhada em filmes anteriores. “Parceiros da Noite”, de 1980, com Al Pacino fazendo um policial que se infiltra na comunidade gay para investigar uma série de assassinatos, é incompreendido até hoje. “Maurice”, de 1987, é uma love story clássica. O soberbo “Perdidos na Noite”, de 1969, coloca um peão vivendo a desilusão do sonho americano se tornando um garoto de programa numa sujíssima Nova York. Mas é através da ruptura de um ícone da macheza mundial que a camada mais profunda e original de Brokeback Mountain” pega no laço.

O desencanto de Ennis com a vida a dois é uma medida preventiva. “Dois homens vivendo juntos? Nem pensar”, rebate quando Jack conta o seu sonho.

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O diretor, Ang Lee, e Jake Gyllenhaal 

Ennis é calado, apático, cheio de traumas. Amar outra pessoa já é um problema, não importa quem. A dinâmica do seu relacionamento com a esposa, e até com a filha mais velha, deixa isso claro. O símbolo do homem que não chora, não interpreta os afetos e muito menos responde-os, é reforçado no contraste da urgência de Jack.

Aqui, há uma sutil mudança do conceito de virilidade. Essa característica não está em negar o relacionamento e depois matá-lo. Mas em escondê-lo para que exista. Os cowboys não deixam de ir aos rodeios, fazer o trabalho bruto – eles não minimizam o que são, onde estão ou como foram criados, nem tornam seu desejo piada ou castigo. Não são estereotipados.

Ennis e Jack tinham esposas, filhos e uma rotina tranquila. Eles não imaginavam que pudessem se apaixonar por alguém. Os amores impossíveis são um tema inesgotável. Entre “Brokeback Mountain” e “Desencanto”, se passaram 60 anos. O contexto muda, a pergunta não: por que as convenções sociais proíbem algo tão bonito?

Brokeback Mountain

Direção: Ang Lee

Onde assistir: TelecinePlay

Desencanto

Direção: Davd Lean

Onde assistir: Youtube, de graça

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