Tecnologia sem educação

Deslizando pela BR 040 numa agradável viagem, pude trocar algumas ideias com a minha nova amiga Nicolle, que me ajudou a refletir sobre educação, tecnologia e futuro.

Afinal de contas, o assunto mais batido do momento são as inteligências artificiais.

Todos os canais têm novidades diárias sobre essas tecnologias, que prometem revolucionar nossas vidas, em praticamente todos as áreas.

Uma, em especial, está sofrendo mudanças radicais com o avanço das IAs: a educação.

O que vai acontecer com as escolas em um mundo que tem respostas fácies, ágeis e “grátis” para qualquer tipo de pergunta?

Drummond disse uma vez que “O homem, bicho da terra tão pequeno / Chateia-se na terra / Lugar de muita miséria e pouca diversão, / Faz um foguete, uma cápsula, um módulo / Toca para a lua / Desce cauteloso na lua / Pisa na lua / Planta bandeirola na lua / Experimenta a lua / Coloniza a lua / Civiliza a lua / Humaniza a lua”.

Temos sofisticadas ferramentas para responder à maioria das questões que fazem sentido nesse atual e conturbado presente. Mas, parece que não estamos fazendo as perguntas certas ou não conseguimos perceber onde começam nossos reais problemas.

Existe uma violência latente dentro e fora das escolas, dentro e fora as empresas, dentro e fora dos estádios, dentro e fora das igrejas, dentro e fora dos parlamentos, dentro e fora de nossas casas, dentro e fora de nós mesmos.

A educação, de muitas formas, evoluiu e atingiu expressivos números nos últimos tempos. Uma maioria massiva de pessoas está alfabetizada, civilizada e com acesso aos principais meios de comunicação.

No entanto, parece existir uma espécie de “vazio” que escolhemos preencher com as nossas versões mais primitivas, quando tudo se revolvia no tapa e no grito.

O que aconteceu com a humanidade?

O ser humano é um fingidor, e que finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que, com certeza, sente. Emprestado e adaptado de Fernando Pessoa o Raio X da nossa natureza mais profunda.

Estamos sempre fingindo, com medo de que as pessoas descubram quem realmente somos.

Por que temos tanto medo de nos revelar nus e crus ao mundo?

Por que máscaras, maquiagem e atalhos estéticos nos soam mais confortáveis?

Por que inteligências artificiais são mais interessantes que as naturais?

O desafio das escolas, ou daquilo que fizermos delas, para o futuro será tentar humanizar toda a construção de conhecimento e pensamento crítico, focados nas habilidades emocionais de forma personalizada.

Somos tão únicos que temos medo de nos mostrar fora de padrão.

Olha toda a beleza disso.

Há uma pessoa incrível dentro de nós, e a maioria ainda não conseguiu quebrar o espelho embaçado que insiste em nos ocultar dela.

Buscamos com toda a força ser o que podemos ser, felizes com quem somos, mas há uma pedra no meio do caminho.

Somos sempre obrigados a pegar os mesmos caminhos, dizer as mesmas palavras, desejar as mesmas coisas e lutar batalhas que nem mesmo entendemos o significado.

A escola fará sentido em um mundo digital e hiperveloz quando ela mergulhar nas emoções de seus alunos e permitir que cada criança desabroche para a vida adulta sem perder a sua própria essência, tornando sua jornada pela vida muito mais interessante, questionadora, criativa, amável, sensível, enfim humana.

A história de todos nós se parece com o final do texto de Drummond: “Restam outros sistemas fora / Do solar a colonizar. / Ao acabarem todos / Só resta ao homem / (estará equipado?) / A dificílima dangerosíssima viagem / De si a si mesmo: / Pôr o pé no chão / Do seu coração / Experimentar / Colonizar / Civilizar / Humanizar / O homem / Descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas / A perene, insuspeitada alegria / De con-viver”.

A última fronteira, que deveria ser a primeira, é o próprio ser humano.

Enquanto não houver coragem para desbravar esse infinito mundo interno, seremos eternos reféns de velhas dúvidas das quais nunca teremos respostas saudáveis.

Estaremos sempre prontos para a batalha, preferindo o embate ao debate, o conflito ao concílio, a pólvora ao pão, a dor ao cafuné.

Enfim, sem habilidades socioemocionais seremos apenas animais alfabetizados, fingindo saber quem somos, mas sempre prontos para rosnar ao perceber que alguém vê um pedacinho de nossa verdadeira natureza selvagem.

O futuro nos reserva infinitas surpresas.

Guiar jovens e crianças por um imenso e sombrio oceano de dúvidas será o grande desafio de nossas escolas.

Todas as respostas já estão na palma de nossas mãos.

Faltará equilíbrio emocional para lidar com tanto poder.

Nessa esquina da história, quem poderá nos defender: máquinas ou corações?

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