Ideias Devem Morrer

Se somos poeira estelar e estamos vivos, então o universo também está.

Por baixo desta máscara não há só carne… Por baixo desta máscara há uma ideia, Sr. Cryde. E ideias são à prova de bala!”


V de Vingança

Na cena do filme V de Vingança vemos um homem comum morrer, depois de deixar claro que ideias não podem ser detidas por invenções humanas. V, personagem de Hugo Weaving, escreve em sua lápide imaginária a frase que daria um nó em minha mente.

Eu demorei a entender que a vitória da vida não está na eternidade, pura e simplesmente, como poderíamos, de muitas formas, imaginar. Para que a vida continue é preciso haver morte.

E nada de pânico, pois vamos falar de reciclagem e não sobre o fim do mundo.

Quando V “morre” ele espalha poética, filosófica e literalmente suas ideias pelo ar, como uma supernova. Tudo aquilo em que acreditava viajou pelo espaço, indo ao encontro de outras mentes e corações, para recomeçar em suas novas versões, feitas dos elementos mais básicos de suas ideias.

Somos, de fato, feitos de poeira estelar, resultado das explosões de estrelas antigas, conhecidas como supernovas. Essas explosões liberam elementos essenciais, como carbono, oxigênio, nitrogênio e outros, que se viajam pelo espaço.

Esses elementos, por sua vez, se condensam para formar novas estrelas, planetas e, eventualmente, a vida, incluindo nós.

O próprio universo é um imenso ecossistema criativo, onde nada se perde, nada se cria e tudo se transforma. Do ponto de vista desse gigante brilhante não existem “resíduos”, tudo será atraído de volta às suas origens e reorganizado para ter novo propósito.

E essa lógica se repete aqui bem debaixo de nossos pés.

A natureza reaproveita tudo que há em seus domínios. Nada se perde… Tudo retorna às suas origens. Do ponto de vista orgânico, é preciso ressignificar aquilo que não está mais “vivo”. E nessa luta pela sustentabilidade, há uma belíssima “indústria” capaz de colocar tudo em seu devido lugar.

A decomposição é um processo fundamental em que materiais orgânicos são quebrados em partes menores por organismos decompositores, como bactérias e fungos.

Os elementos mais básicos encontrados na natureza, como carbono, oxigênio, nitrogênio, hidrogênio e outros, são os mesmos elementos que são expelidos pelas estrelas durante as suas fases finais, especialmente em eventos como as supernovas.

Esses elementos, muitas vezes chamados de elementos primordiais, são fundamentais para a composição da matéria orgânica e inorgânica na Terra e em outros lugares do universo.

Quando algo “morre”, na verdade está se reinventando, poeticamente, na velocidade da luz.

A decomposição na natureza é uma obra de arte, a fim de colocar ordem na casa e manter as coisas funcionando.

Ideias, por melhores que sejam, precisam morrer.

Estrelas, com bilhões de anos e o infinito poder nuclear cozinhando átomos em seus fornos interiores, também chegam ao seu destino fatídico. Mas, isso não quer dizer que seja o fim.

Nenhuma estrela sai de cena sem um grande evento cósmico.

A sua história será enviada aos confins do universo. Seu processo de decomposição trará riqueza e uma chance para novos planetas e estrelas gerarem vida em outro canto do Cosmos.

Trazer essas ideias para o nosso dia a dia, nas mais variadas situações, quando lidamos com problemas diversos e a eterna necessidade de reciclar nossas ideias, parece que faz sentido. Mas, algo tem que morrer.

A maioria de nós se apega às próprias ideias, criando cemitérios antissépticos na cabeça.

Mesmo sendo à prova de balas, as ideias precisam de validade. Depois de um tempo há que se rever sua pertinência. Existem “microorganismos cognitivos” famintos à espera do seu lanche.

As empresas que encaram o desafio de criar ecossistemas criativos para estimular o intraempreendedorismo devem prestar mais atenção nas pessoas que fazem parte do seu universo.

A decomposição orgânica coloca as coisas no lugar, reorganizando elementos para que façam sentido no meio ambiente. Então, em um ecossistema criativo devemos estar atentos ao que acontece “na mente” das pessoas e trabalhar para que suas ideias, mais do que apertar parafusos, sejam vistas, ouvidas e catalogadas.

E, mais que isso: devemos garantir que farão parte do sistema, decompostas em partes menores, para que façam sentido agora ou preencham a lacuna de uma outra ideia, que combinadas iniciem um novo ciclo de vida.

Essa inquieta recombinação química, que não perde nada de vista, pode garantir que nada se perca e tudo se transforme, em uma empresa que busca ser criativamente sustentável.

A natureza ensina e o universo confirma.

Existe uma poderosa lógica que move o cosmos e ela pode ser vista pulsando dentro e fora de nós. E por que as nossas ideias, criatividade e inovação viveriam diferente disso?

O texto que me inspirou a escrever esse artigo veio da mente do neurocientista António Damásio. Para ele “o que se mostrava mais vasto que o céu não era o cérebro, e sim a própria vida, a genitora do corpo, do cérebro, da mente, dos sentimentos e da consciência”. Para Damásio, mais impressionante que o universo inteiro é a vida, como matéria e processo, como inspiradora do pensamento e da criação.

Existe uma energia criativa dentro de todos nós. Uma herança de bilhões de anos, pulsando e cozinhando átomos, pronta para explodir a qualquer momento.

Ideias são como estrelas que iluminam até morrerem e se transformar em mais vida. Ideias são como sementes, que brotam, germinam, criam mais vida com mais sementes e novas possibilidades.

Ecossistemas criativos deveriam ser assim.

Ideias precisam morrer, porque assim tudo fica muito mais interessante.

Agora, que você sabe que é fruto de uma estrela, quais ideias brilhantes “brotaram” aí nessa mente nuclear?

Ou você é à prova de novidades?

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