Você deve ter visto no seu feed de notícias. O melhor texto de todos os tempos da última semana. Eliane Brum acertou já no título: “Exaustos-e-correndo-e-dopados“. Esse hífen entre as palavras não dá respiro. Até para ler o título você se cansa. Uma reflexão sobre nosso tempo. “Na sociedade do desempenho, conseguimos a façanha de abrigar o senhor e o escravo no mesmo corpo”, diz um trecho. Mas o problema é que vivemos num impasse. De um lado Eliane Brum, de outro Gary Vaynerchuk.
Gary é um homem de negócios. Um precursor em todo esse lance de empreendedorismo digital que está tão em voga nos dias de hoje. Sabe qual o segredo do sucesso de Gary? Trabalho. Muito trabalho. O cara trabalha até no Natal.
Mas aí tem o texto da Eliane. “Estamos cada mais livres para trabalhar 24X7 – ou atuar 24X7. Alcançamos a paradoxal liberdade de sermos escravos. Como o corpo se rebela, manifestando-se em depressões, insônias, crises de ansiedade e de pânico, dopa-se o corpo”, diz a jornalista.
O Gary defende que precisamos trabalhar se queremos vencer. Trabalhar mesmo além do tempo que separamos para o trabalho. Com a internet e os smartphones, como bem ressalta a Eliane, praticamente não nos desligamos. Mas se o objetivo é o sucesso, não podemos desligar. “Pare de assistir a porra do Lost”, dizia o Gary em meados dos anos 2000.
“Todos trabalhadores culpados porque não conseguem produzir ainda mais, numa autoimagem partida, na qual supõem que seu desempenho só é limitado porque o corpo é um inconveniente”, reflete a Eliane noutro trecho do texto.
Gary é um cara foda. Inegável. Mas nem todos somos Gary. Conforme ressalta Eliane, qual o limite do corpo de cada um? Nem todos vão aguentar trabalhar 24X7. Nem todos vão render da melhor maneira. Incrível que o Gary tenha vencido como venceu, mas talvez a receita dele não sirva para todos.
Estamos em 2016. Bateu uma vontade de rever Lost.