Depois da greve dos funcionários da cadeia, na semana passada, impedindo os bandidos de ENTRAR na penitenciária, achei que nunca mais viria uma greve mais bizarra.
Mas tem essa (bem mais digna, diga-se de passagem).
Faleceu no começo deste mes, aos 84 anos de idade, o astronauta americano William Pogue, o primeiro e único a fazer uma greve… em órbita.
Pogue era um dos 3 últimos tripulantes do Skylab, antes dela fritar na atmosfera em fevereiro de 1974. Ficaram 84 dias dentro de uma lata de 36 metros, orbitando a Terra e fazendo mais de 50 testes científicos, sem parar. A glamurosa época das missões Apollo já haviam terminado e ir para o espaço era cada vez mais trabalho braçal pesado.
“Estávamos trabalhando demais. Não parávamos o dia inteiro. O trabalho era tedioso, embora a vista fosse espetacular” declarou Pogue em sua autobiografia anos depois.
Foi aí que no meio da missão, percebendo um certo abuso, Pogue abriu seu microfone e chamou o controle da missão para negociar a sua jornada de trabalho e a dos “companheiros”, lá de cima mesmo. O pessoal do controle não entendeu nada e pediu que Pogue retornasse à programação agendada. Diante da negativa, Pogue não teve dúvida: decretou a primeira greve espacial. Fariam uma operação tartaruga, o que temos que concordar, combina com gravidade zero. Mas o mais legal era a reinvidicação dos astronautas: queriam mais tempo na janelinha. Mais tempo olhando para a Terra, para o Sol, para o universo. Mais tempo de contemplação.
“Queremos mais tempo para “estudar” a Terra, o Sol, o universo e nós mesmos”.
Depois dessa declaração meio esquisita para um astronauta, foram feitas várias reuniões com psicólogos lá em Cabo Canaveral para entender se era um caso de depressão ou alguma anomalia espacial e no fim resolveram ceder nas negociações e deixar os 3 olhando pela janelinha por mais tempo. Mesmo porque, era o que eles estavam fazendo mesmo, não tinha muito o que mudar.
William Pogue ficou conhecido como o astronauta “pé no chão”, o primeiro a tirar o rótulo do superherói espacial e o primeiro a trazer um pouco mais de humanidade e poesia para as missões espaciais.
Se hoje existe a fama do astronauta Chris Hadfield de ser o mais “soltinho”, o astronauta dos tweets e do violão no espaço, antes teve William Pogue. Então fica aqui nossa homenagem a ele e que sua greve nos sirva de exemplo de que priorizar é uma das coisas mais importantes do mundo. E muitas vezes, tem que ser em benefício próprio para o resto poder continuar funcionando direito.
RIP, astronauta grevista.
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