A comunicação contemporânea mostra: a unanimidade morreu. Graças a Deus, afinal, “toda unanimidade é burra”, como já dizia Nelson Rodrigues. As unanimidades estavam numa boa, numa nice. Mas foram sacudidas. A democratização dessa coisinha chamada internet deu voz para um monte de gente que discorda. E quando digo discorda, quero dizer de TUDO! O que nos leva ao mais recente caso de discordância coletiva que a web brasileira observou: a foto do menino no Réveillon de Copacabana. Captada pelo fotógrafo Lucas Landau para agência Reuters, a imagem mostrou muito, para muitos, sobre muitos.
Há quem enxergue a desigualdade do Brasil quando o garoto negro, encolhido pelo frio e aparente abandono, observa os fogos de um novo ano enquanto os brancos ao fundo celebram 2018. Todos sorriem. O guri olha sério para a luz do céu. Preocupado com o porvir? Talvez.
Outros veem apenas um garoto que mergulhou no mar e, no momento do clique (aquele instante decisivo do Bresson, saca?), aparentou certo frio. Mas nada de abandono ou sofrimento. Só porque o guri é negro, não quer dizer que é de rua ou abandonado. Talvez fosse o rebento de algum casal que não aparece no quadro e ponto final. Afinal, não é porque uma criança é negra que ela está abandonada ou, automaticamente, fadada ao sofrimento, certo?
Duas visões – de muitas – para uma mesma imagem. Discordância. A fotografia, como arma jornalística, cumpriu seu papel e causou discussão. Uma discussão contemporânea, vale ressaltar. Em outros momentos, obras midiáticas cujos significados são discutidos atualmente não causavam tal fervor no passado.
O que você vê?
Uma peça publicitária sensível às mulheres ou um filme que promove o assédio e a pedofilia?
https://www.youtube.com/watch?v=0HxMI5rmipQ
Uma linda imagem que representa o fim da Segunda Guerra Mundial ou apenas uma cena de abuso?
Outro lindo filme publicitário ou apenas um absurdo em forma de comercial com nudez gratuita?
https://www.youtube.com/watch?v=hjfCh0Lafjg
Pois é, aparentemente, o momento é de ruptura e discordância. Houve quem sempre buscasse isso em seus trabalhos. Profissionais que fugiam das unanimidades, como o fotógrafo italiano Oliviero Toscani. Dos anos 80 até o comecinho da década de 2000, ele foi Diretor de Arte da marca italiana Benetton. Aliás, em 1995, o mesmo Toscani lançou o provocador “A Publicidade é um Cadáver Que nos Sorri”. Suas campanhas históricas provocam a questão que parece balizar a comunicação contemporânea: o que você vê?