Tem uma criança no meio do caminho

 

Quando ele chegou em casa, seu pai já estava jantando. A ordem foi para ir dormir sem comer e sem tomar banho. O castigo era implacável. Sem conversa ou qualquer argumentação. O garoto de 8 anos não podia, segundo as leis da casa, chegar depois do pôr do sol. Infelizmente, aquela não foi a primeira e nem a última vez que suas fugas em busca de aventuras para explorar o mundo foram descobertas. Às vezes, a cumplicidade da minha mãe não ajudava muito. O estômago roncava, mas a mente estava cheia o suficiente para alimentar o desejo de novos voos.

Essa é só mais uma história de uma fiel criança, que insistia em sua agenda pessoal. Leis e regras não se aplicavam muito ao seu caráter aparentemente indomável. Mas, nem todas as crianças podem se valer disso. Os pais do século XXI têm ferramentas mais sofisticadas do que apenas simples regras de permanência no sagrado solo doméstico de seus lares. E funciona. A galerinha fica em casa, sem o menor problema. Nada é mais eficiente na arte de roubar a atenção de uma criança do que as quinquilharias eletrônicas vendidas hoje em dia. São babás quase perfeitas!

 

“Não sei o que o mundo pode achar de mim; mas para mim mesmo parece que fui apenas um menino, brincando na praia e me divertindo quando encontro, vez ou outra, uma pedrinha mas lisa
ou uma concha mais bonita do que o normal, enquanto o grande oceano da verdade
jaz totalmente não descoberto a minha frente.”

– ISAAC NEWTON

 

Pesquisas mostram que brincar é vital para o desenvolvimento de uma criança, equipando-a com as habilidades necessárias para lidar com o futuro da humanidade, como inteligência emocional, criatividade e solução de problemas. Ser um super-herói é liderar; receber um ursinho de pelúcia para o chá é organizar; construir um forte é inovar: brincar é aprender.

Essas oportunidades devem ser concedidas às crianças, onde e quando for possível. Mas, milhões de jovens em todo o mundo não têm espaços seguros para brincadeiras exploratórias e práticas. De fato, 78% dos pais concordam que, durante a infância deles, o mundo era muito mais seguro. É fundamental que a liberdade de brincar com segurança não seja perdida. Crianças que brincam em ambientes seguros, com apoio adequado, desenvolvem melhor a comunicação direta, trabalho em equipe e habilidades de negociação, permitindo que elas se tornem mais resistentes aos desafios da vida.

Muitas outras crianças continuam sem brincar o suficiente, pois isso acaba não sendo prioridade em meio às pressões e distrações de um mundo agitado, cheio de testes e provas, e orientado pela tecnologia. Infelizmente, nossa crença na importância vital da brincadeira, tanto dentro como fora da sala de aula, não é compartilhada por todos. Estudos mostram que, nos últimos 30 anos, o tempo que as crianças passam brincando na escola está diminuindo rapidamente. Em alguns países, duas em cada três crianças reclamam que seus pais organizam muitas atividades fora da escola, e quase a metade (49%) acredita ser difícil encontrar tempo para brincar com seus filhos.

Mais da metade das crianças nos Estados Unidos passam menos tempo ao ar livre do que condenados em prisões de segurança máxima. Enquanto o nosso mundo em constante mudança continuar a representar novos desafios, a capacidade das crianças de desenvolver habilidades essenciais ao futuro – e ao futuro da sociedade como um todo – será prejudicada.

Em um mundo ágil, repleto de tecnologias como aprendizado de máquina e inteligência artificial, significa que as crianças que entram na escola primária hoje terão empregos que ainda nem existem. Isso significa que precisamos repensar nossos sistemas de ensino, programas de treinamento e, principalmente, nossos processos de avaliação, para que as crianças de amanhã estejam preparadas para o que o futuro tem a oferecer.

A importância do ato de brincar em face de um mundo em plena e constante mudança nunca foi maior. Quando as crianças brincam, por exemplo, elas praticam o pensamento original, que é um dos principais processos cognitivos para a criatividade. Jogos de construção, na primeira infância, se correlaciona com o desenvolvimento de habilidades de visualização espacial, que estão fortemente ligadas às capacidades matemáticas e habilidades de resolução de problemas na vida adulta.

O homem que nos ajudou a ver como o universo funciona, já no fim da vida, não teve vergonha de dizer que passou sua vida toda brincando. Talvez esse tenha sido o grande segredo de sua genialidade. A dedicação de Isaac Newton ao que considerava importante não somente mudou a sua vida, mas a forma como o mundo entendia a si mesmo. Por não aceitar as regras de seu tempo, não o perdeu apenas imaginando como seria diferente, mas se comprometeu a fazer algo, enquanto se divertida. E parece que a brincadeira acabou dando certo!

Quanto mais nossos filhos brincarem hoje, mais preparadas serão as gerações futuras. A brincadeira sadia é necessária para nos dotar de líderes que possam resolver conflitos, resolver problemas, construir comunidades socialmente conectadas e inspirar a sociedade a florescer.

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