SXSW: ainda sobre a Esther Perel e a ânsia pelo uso do AI

O SXSW está cumprindo o seu papel comigo, ao perturbar minha mente e me deixar reflexiva. Eu cheguei aqui na certeza de que eu encontraria respostas, mas a verdade é que eu entendi que a minha lista de duvidas estava muito pequena.

A gente já falou sobre a palestra dela aqui neste post, feito pelo Karan, onde ela fez um paralelo entre o que é, de fato, intimidade com o que a guerra pela atenção ta causando na nossa cultura. Ao perguntar quem trabalhava demais, chegava tarde em casa e queria fazer mais coisas, mas não tinha energia para nada além de sentar na frente da TV e mexer no celular, ela viu quase todo mundo se levantar da cadeira. “E vocês ainda questionam o porquê de fazermos cada vez menos sexo?”, brincou.

Mas minha mente também se agarrou numa outra importante parte do papo, já que ela nos contou ter descoberto recentemente que fizeram uma versão dela em AI: o Esther Perel Bot, produzido a partir de seus conteúdos originais, na tentativa de obter para si uma terapeuta disponível com a bagagem e categoria desta que é uma das psicoterapeutas mais famosas do mundo. Ou seja: o ponto de partida é genial, mas e o resultado disso?

Bom, o resultado disso traduz muito o atual momento do AI, já que parece que estamos depositando nesta tecnologia o futuro de todos os processos e negócios, como se ela pudesse, de fato, substituir a participação humana, mas a verdade é que não, não pode. Está ficando cada vez mais claro que, assim como o Bot da Perel, os resultados ficam embasados em um padrão de comportamento de ações e/ou palavras do passado, incapazes de produzir um resultado verdadeiramente original.

No caso do Bot da Perel, há uma lacuna importante no que se refere a intimidade, ambiguidade, dilemas e contradição que só a sensibilidade humana pode mapear e conectar. Ou seja: não há razão que resolva o que demanda vulnerabilidade.

E se a gente tentar achar um parceiro(a) ideal com ajuda do AI? Pois é… também não teremos sucesso, porque não existe um padrão ideal e correto que supra o que a intimidade real exige: a aventura, o erro e acerto, já que isso também é exclusividade dos que estão disponíveis para a vulnerabilidade humana.

Assim, Esther lembrou que as plataformas sociais podem nos dar a sensação de conexão e pertencimento, mas a verdade é que nunca se viu tanto isolamento. Neste sentido, o nosso maior potente AI não significa “Artificial intelligence“, mas “Artificial Intimacy.” Por outro lado, o sentimento de prazer costuma vir do desconforto ao assumirmos riscos, já que é ele que nos permite descobrir quem somos (e quem não somos), ou destravar potências que não achávamos que tínhamos. Ainda, se por um lado o desejo é construído pela combinação da atração com obstáculo, por outro ele é destruído sem a fricção. Em outras palavras: depender de um processo flat, que te sugere respostas com base num padrão, vai te levar sempre a um resultado comum, sem emoção.

 

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