O primeiro passo para a autonomia

 

Você já ouviu falar em holocracia? Se não, é bom ficar ligado porque parece ser o futuro da gestão. É uma palavra meio esquisita e não muito simpática, mas é bem mais legal do que você imagina. A holocracia é um sistema de gestão que simplesmente abre mão da hierarquia – pode ser a grande chance de se livrar do seu chefe. Nele, as pessoas tem funções, não cargos. E, muitas vezes, essas funções são escolhidas por elas mesmas. As decisões são colegiadas e até os salários são definidos pela avaliação geral da empresa em relação ao trabalho. Lindo, né?

Algumas empresas tem adotado esse modelo um tanto inovador. A Vagas, por exemplo, foi reconhecida internacionalmente pela sua ousada gestão, como mostra a matéria da Exame. Segundo Kaphan, o dono, esse modelo não chega a ser uma democracia, porque não tem voto. Mas, todos têm que concordar com a decisão para que ela siga em frente.

O mais legal do holocracia é que ela ameniza a força da hierarquia, ainda que ela possa continuar existindo. A tendência é que a tradicional pirâmide do organograma fique mais achatada, mais horizontal, que as pessoas fiquem mais próximas, menos intimidadas, mais autônomas e mais felizes. Autonomia é vida. Tire o salário da pessoa, mas não tire sua possibilidade de criar, sugerir, questionar, liderar. Apesar de ser difícil imaginar essa ousadia em algumas empresas, não acredito que seja impossível de colocar em prática. E vou explicar por quê.

Uma empresa com estrutura hierárquica rígida sofre. A vida de hoje não é rígida. Pelo contrário, é fluida, líquida. As coisas mudam o tempo todo e muito rápido. As empresas, para acompanhar essa mudança, precisam ser ágeis. Para ser ágil é preciso ter sensibilidade para captar as tendências e estar sempre preparado para agir. O tempo para tomada de decisão é muito curto. Não dá pra enviar e-mail, tem que ligar, pegar no corredor. Não dá pra esperar o comitê da quinta, que vai levar pro comitê da segunda, que vai tentar aprovar no comitê do 1º semestre do ano que vem. Tem que ser hoje. Tem que ser agora.

“Mas, pera lá, decisão tomada assim, na correria, pode dar problema.” Pode. E pode dar problema mesmo passando pelos 82 comitês de aprovação. E, convenhamos, depois dos 82 comitês, os problema já são outros. O risco existe nos dois casos. Melhor fazer, errar e aprender do que não fazer nem errar nem aprender. A chave é errar rápido, aprender rápido e refazer rápido. É o PDCA na velocidade 5 do Créu.

Será que não tem um jeito de reduzir a chance de errar? Tem vários jeitos. Mas, quero apresentar um deles, que, para mim, é uma das formas mais modernas e maduras de se pensar a estrutura da organização. Se o desafio é dar mais autonomia às pessoas e, ao mesmo tempo, mitigar ao máximo o risco de que elas falhem, dê a elas um objetivo estratégico muito claro, que as guie no momento de dúvida. Assim, em vez de procurar o chefe, elas vão pensar no objetivo final e agir com foco nele. Um ex-chefe muito sábio sempre dizia: “quem não tem padrão, tem patrão”. Defina o padrão, o norte estratégico comum a todos.

Sua Missão, sua Visão e como você quer ser percebido no futuro. São essas informações que as pessoas precisam conhecer para se sentirem confortáveis para evoluírem sozinhas. Defina a essência de sua marca e a exponha com clareza. Bata nessa tecla todos os dias. Exaustivamente.

Se a Missão da sua empresa é garantir a compra mais rápida, todos os seus funcionários devem saber disso. Sabendo disso, eles podem propor soluções com autonomia e questionar soluções de outras pessoas – até do próprio chefe – com base nesse norte. “Olha, chefe, eu gosto muito de você, o senhor está muito bonito hoje e tal… Mas, acho que implementar mais essa etapa de aprovação da transação pode comprometer uma compra rápida. Não acha?”. Pode até ser que seu chefe imponha a vontade dele, mas a empresa vai, mais cedo ou mais tarde, priorizar aqueles que contribuem para o cumprimento de sua Missão e para a perenização de sua existência.

Independente da estrutura da empresa em que você trabalha, fica aqui uma dica: conheça o norte estratégico dela e faça tudo o que você puder para contribuir para chegar lá, mesmo que isso não tenha nada a ver com o seu cargo ou sua função. No Facebook, tem uma placa que eu adoro: “Nada no Facebook é problema de outra pessoa”. É assim: o primeiro passo para fazer – sozinho – é saber o que tem que ser feito.

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