O ativismo político inocente de Ginger & Rosa

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(por Ruh Dias)

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Quando eu era mais nova, tinha uma série de sonhos revolucionários. Acreditava realmente que eu poderia mudar o mundo e torná-lo um lugar melhor (e, por melhor, quero dizer mais acolhedor e menos opressor). Havia uma vontade de tranformação dentro de mim que chegava a queimar e soltar faíscas. E foi deste pedaço de mim que lembrei quando assisti Ginger & Rosa (da diretora Sally Potter, 2012).

ginger-and-rosa-alice-englert-elle-fanning.jpgGinger (Elle Fanning) e Rosa (Alice Englert) são duas adolecentes que vivem na Londres dos anos 60. Elas são amigas inseparáveis e, juntas, se recusam a ir à escola em busca de respostas para as perguntas que se fazem sobre religião, política, sociedade e o papel da mulher nela. Pouco depois, começa a Guerra Fria e elas decidem se aproximar do pai de Ginger, Roland (Alessandro Nivola), que é pacifista e manifestante político.

Apesar do enredo ter algumas sub-tramas de romance e com foco nas relações familiares conturbadas das duas amigas, o que ficou em mim foi a pergunta: onde está aquele meu pedaço que acreditava ser possível lutar por um mundo melhor?

Ginger escreve poesias mas, ao ouvir pelo rádio todas as ameaças de bombardeios e de guerra ao redor do mundo, ela passa a ter pequenas crises de angústia, pois ela sente-se, ao mesmo tempo, responsável pelas coisas serem assim e culpada por não fazer nada para mudar o rumo da história. Ela se incomoda com a Guerra Fria em um nível íntimo e profundo, como se os acontecimentos de Londres e do mundo inteiro fossem parte dela mesma, de sua própria história de vida. Rosa, por sua vez, é um contraponto à Ginger, pois parece interessar-se na guerra apenas como uma maneira de confrontar sua própria família, e não como quem realmente acredita em ideais políticos maiores.

ginger-and-rosa-picture02.jpgAté então distante do pai, Ginger se aproxima dele através destas crises de angústia e vê nele um meio de concretizar seus planos de colaborar para que a guerra termine. Ginger é tão frágil e, ao mesmo tempo, tão forte, que me apaixonei por ela nos primeiros minutos do filme. E continuei tentando me lembrar onde eu havia guardado aquela adolescente tão cheia de ideais que eu era.

Neste momento histórico do filme, o movimento dos hippies ainda não começou, mas é fácil imaginar Ginger continuando seu caminho de engajamento político (e poético) na geração do Paz e Amor. E, pouco depois, percebi que eu estava imaginando a mim mesma, em alguma manifestação relevante em alguma parte do mundo levada por alguma mobilização importante. Não foi difícil misturar Ginger a mim mesma, nos meus próprios devaneios.

E se você me perguntar: mas, afinal de contas, você reencontrou este seu pedaço perdido pelo caminho? Te respondo: não faço a menor idéia de onde ele esteja.

Acho que foi soterrado pelas frustrações, pelos fracassos e pelo meu pessimismo em relação à humanidade. A poesia virou silêncio amargo e secreto. Mas, vez ou outra, a chama volta a me arder por dentro e eu fico inquieta e impaciente, exatamente como Ginger e suas crises.

 

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