Troco likes (por algumas palavras)

por Cristiano Landa Prado

Andava vendo muita gente entrando nessa onda de fazer um post que prometia um comentário personalizado e anônimo para cada amigo ou amiga que curtisse a publicação. Curioso, publiquei também, sem imaginar que seria uma das experiências mais incríveis que teria no Facebook.

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Enquanto eu esperava acumular algumas curtidas pra não comprometer o anonimato de quando eu começasse a escrever, já fui vendo como seria divertido e provavelmente desafiador. Só não esperava sentir tantos significados à medida que ia escrevendo.

Tinha, claro, os amigos, primos e tias que curtiam porque sim. Alguns pra quem eu já imaginava o tanto que seria gostoso escrever. Depois, os amigos menos amigos, que por curiosidade curtiram também e eu ia pensando no que podia falar deles. Por fim, tinha aqueles amigos-de-facebook, que você mal conhece e ainda te fazem se perguntar: por que será que essa criatura curtiu?

Bem, logo eu comecei a escrever e já fui percebendo o quão mais profundo era aquela brincadeira. E acho que no fim das contas, dois dias e 176 comentários depois, três pontos mais me chamaram a atenção.

1. A gente continua se falando por cartinhas

Pras pessoas mais próximas, era uma oportunidade de ressaltar o especial em cada uma. Em algumas, cabia dizer com mais profundidades e apesares. Noutras, só lotar de elogios — não que inverdades, só pouco ditos. Fato é que, na maioria do que eu escrevi, eu não diria — ou não estaria confortável para — dizer pessoalmente as mesmíssimas coisas. A cada dia fica mais fácil não precisar falar na cara, ali monitorando os olhos de quem ouve e recebendo em tempo real, ao vivo, toda e qualquer reação. Continuamos a preferir cartinhas.

2. O bonito e o perigoso das palavras

Pra mim, palavra é sempre um jeito que a gente inventou pra estar próximo de mais gente. Eu penso que toda linguagem é um pouco do amor querendo dizer que é amor. E de algum jeito eu queria não me esquecer disso enquanto escrevia. Ainda assim, as palavras não sorriem junto com a mesma expressão das bochechas. Não têm tom de voz por completo, nem carrega os olhos junto. É sempre perigoso fazer gente caber em linhas.

3. “Pelo que eu vejo do seu Facebook…”

Fosse a pessoas menos próximas ou há muito não vistas, numa boa parte dos comentários eu acabava considerando a vida delas que eu via no Facebook, no Instagram. Era uma memória de feed. Uma análise das personas. E o mais estranho não era nem eu precisar disso, mas a pessoa do lado de lá saber que sua descrição viria justamente dessas fontes. Ou a gente considera o nosso eu online muito verossímil ou tão mais interessante que o real que é preferível deixar conhecer só o primeiro.


Isso sem falar nas pessoas que não se encontravam, nas que se achavam nos comentários errados e nas que, claro, nem foram procurar. Fato é que foi tudo um exercício maravilhoso de: lidar. Lidar com expectativas, lidar com desconhecidos, lidar com memórias, lidar com palavras. A falta de intimidade podia soar hostil, o muito de elogios podia parecer cantada.

De fato, não é o tipo de coisa que te faz felizinho e só e acabou. Te faz questionar, te faz negociar. Imagina um belo dia você começar a falar o que pensa de todo mundo do seu Facebook? Bem, por um lado é bem assim. Ao mesmo tempo que é beeem longe disso.


Pra você que já fez um post assim, o que achou? E você que não fez, faz lá e me conta depois o que achou, tá?

(publicado originalmente aqui)

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