A coleira corporativa das suas férias

E-mails irão se acumular, pendências seguirão pendentes e uma a falsa sensação de insubstituibilidade faz com que a primeira semana após a volta das férias torne-se uma das mais estressantes do ano

Sair de férias nos dias de hoje é uma experiência um tanto quanto peculiar. A felicidade potencial de ter um tempo para “fazer as coisas que gosta” constrasta com a ansiedade de pensar como suas responsabilidades corporativas irão se desenrolar durante aquele período de, teoricamente, ausência do trabalho.

E-mails irão se acumular, pendências seguirão pendentes e uma a falsa sensação de insubstituibilidade faz com que a primeira semana após a volta das férias torne-se uma das mais estressantes do ano, ou seja, toda calma e relaxamento esperados após um período de descanso tem prazo de validade de 7 dias… e espere outros 358 dias para uma nova respirada.

Isso quando o período de ausência não é apenas uma extensão remota do trabalho. Ainda mais em um mundo permanentemente conectado, quem nunca deu aquela conferida básica no e-mail do trabalho (claro, configurado em seu celular pessoal) durante as férias apenas para “apagar as mensagens menos relevantes” ou “ver se tem alguma urgência”? Bem, se você faz isso, não está exatamente de férias, está apenas em trabalho remoto com Travel & Expense não pagos pela empresa.

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Nos idos de 2010, me referia à “maldição da luz vermelha”, o característico alerta de novas mensagens do Blackberry, o símbolo da telecomunicação corporativa na época.

Algumas empresas tiveram que tomar as rédeas deste problema social, entendendo serem responsáveis pelo bem estar de seus funcionários – ainda que eles se auto sabotem – e adotaram procedimentos que impedem os indivíduos de trabalharem quando, legalmente e humanamente, não é esperado que o façam.

Ano passado, na França, passou a ser mandatório para empresas com mais de 50 funcionários estabelecer horários no qual seu pessoal não deve enviar ou receber e-mails (Adaptation du droit du travail à l’ère du numérique) como uma resposta à situação, descrita pelo legislador Benoit Hamon, de pessoas que “saem do escritório mas não saem do trabalho, presas como um cachorro em coleiras digitais“. Embora não proíba efetivamente o envio/recebimento de emails, não deve ser esperado pelo empregador que o funcionário esteja disponível e acessando estas mensagens fora do horário estabelecido. Tal lei cunhou o termo direito a estar desconectado (right to disconnect), sendo discutido para se tornar um direito humano básico.

Ainda nessa linha, o estúdio de design Heldergroen, em Amsterdam, tem mesas de trabalho conectadas ao teto que, independente do que você esteja fazendo, pontualmente às 18h são puxadas por cabos, transformando o escritório em um espaço para Yoga para aqueles que querem estender o horário na empresa.

Para períodos mais longos de ausência – férias – a Daimler, montadora de automóveis e caminhões da Alemanha, implementou um programa chamado Mail on Holiday.

Ao invés do conhecido “Estou de férias até dia tal, responderei sua mensagem quando retornar” ela permite com que seus funcionários ativem no servidor de mensagens uma opção como “Estou de férias até dia tal; seu e-mail está sendo apagado“. Se for algo realmente urgente e/ou importante, o remetente encontrará alguma outra pessoa com quem falar; ou voltará a entrar em contato com o cidadão uma vez que ele retorne de férias, descansado e com um Inbox vazio.

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Nos últimos 5 anos esta é uma discussão bastante relevante principalmente em empresas européias, e o mais interessante é que tais atitudes não afetaram em nada a produtividade destas empresas, segundo a OECD (Organization for Economic Co-operation and Development).

Mas há, claro, uma mudança cultural entre os próprios funcionários que deve ser discutida. Consultando colegas em uma conversa franca, muitos adotam esse comportamento com receio de serem ‘mal vistos’ pelos colegas e pelo chefe como alguém que coloca qualquer outra coisa (a vida pessoal, por exemplo), à frente da empresa. Ou, por experiência própria, que “se estou me dedicando a outra atividade quando não estou no escritório, não estou pensando 24h por dia em como melhorar as coisas na empresa”.

Pedindo a devida interpretação de texto, se você trabalha apenas para não perder o trabalho, tem algo muito errado….

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