Quanto custam os meus erros?

Muita gente já pisou na bola. Muitos fizeram cagadas homéricas. Mas foi o incansável desejo humano pela novidade que nos permitiu conquistar o Planeta.

Sempre tem alguém que faz merda.

Essa pessoa, muitas vezes, ou não gosta muito de regras ou é burro mesmo. Talvez os dois. Impossível saber ao certo.

A tribo vivia em paz e segurança, com tudo acontecendo de acordo com as regras dos anciãos. E, de repente, alguém resolve fazer algo fora do esperado e coloca tudo a perder. Ele ou ela experimenta uma erva proibida; vai além do ponto demarcado como a fronteira; bebe um líquido que não era permitido; conversa com uma pessoa a quem não deveria dirigir a palavra; entra numa parte do rio que é sagrada; usa uma ferramenta de um jeito estranho ou não usual; enfim, faz aquela lambança típica de quem não lida bem com os roteiros, as normas e as diretrizes.

Inventamos leis para garantir que a vida em sociedade funcione, mas sempre houve e haverá pessoas que não dão conta de andar na linha. Regras são importantes para o equilíbrio da sociedade, das empresas, das instituições, das famílias e de todos os arranjos que incluem mais de uma pessoa. Sim, sempre que há mais de um ser humano reunido é preciso estabelecer a forma como tudo deve ser feito.

É nessa hora que a coisa complica.

Desde que nossos avós começaram a dominar esse pequeno e pálido ponto azul perdido no universo, eles perceberam que a cooperação poderia garantir segurança e alimento, ou seja, a tão sonhada sobrevivência. A grande questão era que quando há mais de um envolvido tem que haver um código para definir como tudo acontece. Então, quem decide os “quem?”, “quando?”, “o que?”, “por que?” sempre será o “mais forte”, de alguma forma. No início da história humana, o mais forte era quem tinha mais músculos, não engravidava, não menstruava, dormia menos pra ficar alerta e conseguia grunhir mais alto.

Só que as coisas mudaram um pouquinho desde então.

Uma vez decidido como as coisas seriam, todos respeitavam as regras impostas pelo líder, até que ele mesmo resolvesse mudá-las ou fosse morto numa batalha contra predadores ou membros de grupos rivais.

Basicamente era esse o roteiro de convivência que garantia a sobrevivência dos grupos. Bom, na verdade até que alguém ou alguma coisa mudassem o rumo da história.

Todos sabemos que sempre existiu e sempre existirá pessoas inconformadas com o status quo. Aqueles que causam dores de cabeça em quem lidera. Imagina alguém tentando usar uma lança de forma diferente durante a caçada a um mamute. Tragédia anunciada, certo? Essas atitudes, aparentemente estúpidas, costumavam levar a morte seus inventores ou até mesmo o grupo todo, dependendo das circunstâncias, mas, muitas vezes, costumava criar um jeito novo de fazer a mesma coisa, só que de maneira mais ágil, fácil e com resultados mais garantidos.

Claro que nem sempre isso acontecia, mas a eterna tentativa e erro repetida por incontáveis geradores de “cagadas” foi suficiente para levar nossos avós das frias cavernas, disputando o café da manhã com o vizinho dentes-se-sabre, para arranha-céus envidraçados que ultrapassam as nuvens, conectados com o mundo tudo.

Muita gente já pisou na bola e foi trucidada pela tribo, pela equipe, pela família, pelo mundo. Muitos fizeram cagadas homéricas que lhes custaram a vida, mas o incansável desejo humano pela novidade nos permitiu conquistar o Planeta. A mórbida vontade de saber o que tem depois daquela montanha, o por quê das coisas serem como são e a tórrida curiosidade que nos impele na direção do desconhecido, mesmo que isso nos custe a vida, às vezes, é um motor que nos distingui do resto de todos os seres viventes na Terra.

Temos medo da morte, mas a certeza de que vamos morrer e a incerteza de quando isso vai acontecer pode matar muitos tipos de medo, dependendo das circunstâncias, nos tornando os seres mais incríveis que esse Planeta já foi capaz de criar.

Pelo menos é isso que nós mesmos registramos em nossos livros de história.

Mudamos muito e evoluímos porque houve essa galera que ousou romper com o padrão estabelecido. Sem esses malucos nada do que temos hoje seria possível. Talvez ainda estaríamos caçando antas usando lanças com pontas de pedra. E foi exatamente essa pedra que machucava os pés da turma, quando passavam por regiões rochosas, que talvez tenha sido o X da questão. O incomodo fez alguém ter a sacada de que se os feria poderia ferir os outros também. Pronto, temos uma arma contra inimigos e uma ferramenta para acelerar e garantir sucesso na caça. Ou seja, comida e segurança garantem maiores famílias e uma dominação mais consistente.

O incomodo foi e sempre será o combustível de qualquer revolução.

É claro que algum ancião deve ter reclamado, dizendo que aquele não era o jeito certo de se fazer as coisas, pois ele e seus antepassados nunca fizeram assim e estava errado, podendo colocar todos em risco e deveria ser proibido.

Você já deve ter ouvido isso muitas vezes de seu gerente, de seu CEO, de seu prefeito, governador, presidente e, com certeza, até de si mesmo. Sim, temos medo de inovar porque dá trabalho e muita falação na nossa cabeça, mas são os donos das “cagadas” que mudam a história, gerando novas formas de superar desafios, a despeito de regras antigas.

O erro é o professor máximo.

A nossa criatividade é dependente da curiosidade que nos move, mesmo que hajam tropeços e pescoções.

Tentar é um verbo poderoso. Errou? Tente outra vez.

Devemos ter medo apenas do próprio medo e de como ele nos controla até o ponto do congelamento no tempo e a fatídica extinção.

Se todos ainda estivéssemos com medo não estaríamos explorando o universo e vencendo epidemias mortais. Se estamos vivos até hoje agradeça aos poucos loucos que não se conformam com a vida como ela é.

Seguir regras é bom, mas questioná-las é um ato de devoção à sobrevivência humana.

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