Você também percebe quando alguém não esta muito a fim de trabalhar?
Sabe jogador com preguiça de correr atrás da bola? Isso. Aquele agente de aeroporto dizendo que você é obrigado a fazer seu check-in no totem de autoatendimento. O burocrata tendo orgasmos ao responder que você vai ter que voltar outro dia porque “tá faltando documento, senhora”. O vendedor que te recebe tão mal que você quase pede desculpa por ter entrado na loja.
Então. Esse mesmo mal tomou conta da moça do mercado hoje, que não estava com a menor vontade de cortar frios. Volto pra casa com cada fatia de salame que parece um bife. Servindo com um arroz ao lado, vira uma refeição. Um PF de respeito. Estala um ovo por cima e ‘tá feito.
Por que ela está com tanta raiva? Não sei dizer. Motivo sempre há de pintar por aí. Vá lá. Dizem que a culpa é uma invenção da igreja católica, mas essa moça teima e insiste em achar que é toda minha. Daí resolveu me sentenciar a 200g distribuídos numa espessura indigesta. Mastigar é minha penitência.
Acontece. É a versão italiana de sair roxo de um exame de sangue porque a enfermeira estava irritada. Ou bater com a cabeça no teto do carro porque o motorista do aplicativo recém descobriu a traição da esposa.
É Caetano Veloso compondo Odeio. O sujeito que acordou sem vontade e desenhou o design do Fiat Doblò. Deus, no sexto dia, criando o homem e achando que estava muito bom, doido pra tirar um cochilo no sétimo.
Todos eles têm algo em comum: naquele dia, acordaram e pensaram “feito é melhor que perfeito”.
Pois comerei o salame como uma hóstia, comungando em solidariedade a todos que, ao longo da vida, tiveram que ler minhas palavras quando eu não estava com a mínima vontade de manejar uma caneta.
Perdoai o mal feito, porque deste prato tu já comeste. E lambuzaste.
Alguém mais ‘tá servido?
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