Por um mundo com mais crianças e menos mini-adultos

Atenção, esse texto pode parecer politicamente correto, mas o que ele de fato pretende é prezar por crianças que sejam crianças e não que já tenham responsabilidades e preocupações que só deveriam ser alcançadas na vida adulta. Criança que é criança deve subir em árvore e desenvolver sua imaginação por meio do “faz de conta” ou da famosa pergunta “o que eu vou ser quando crescer?”.

Agora quando o “faz de conta” vira realidade e crianças deixam de dormir por pensarem nas pressões de seus trabalhos, nas provas e metas que terão de cumprir na próxima semana, no medo que as irrompem por uma eventual demissão, nos desafios que elas serão impostas, algo está errado ou conturbado. Você deve estar se perguntando: que criança pensa em demissão ou meta?

O que quero é fazer uma reflexão a partir de um programa que estreou em TV aberta há quase três semanas, o MasterChef Júnior, em que competidores de 09 a 13 anos disputam o título de vencedor na categoria melhor chefe mirim. Em meio a facas, batedeiras e panelas, os pequenos adultos elaboram pratos que nem eu com quase 30 consigo fazer. Quem não sente aflição só de assistir as crianças cortarem cebola com a agilidade de um chefe profissional?

O fato mais grave, creio que não seja o uso de artefatos que causem riscos ao nosso corpo físico se mal utilizados, tais como facas e fogo – lembro muito bem, que quando era pequena meus pais e os pais dos meus amigos nos orientavam a ficar bem longe desses objetos que, ocasionalmente, causavam acidentes em casa. Dos males, esse é o menor já que no caso dos nossos mini chefinhos existe uma espécie de domínio desses instrumentos. Aí que começa o problema: crianças de 09 a 13 anos deveriam treinar e estabelecer uma rotina com algo semelhante a um trabalho?

Existe uma grande diferença entre o fazer de conta e o ser de fato. Não há problema em uma criança querer ser chefe de cozinha, professor ou desenhista; assim como não há problema em brincar de ser… A questão está em exercer, em executar uma profissão aos 10 anos de idade. As crianças, que deveriam subir em árvores ou brincar de pega-pega, passam parte de seus dias elaborando estratégias para atingirem suas metas de gente grande.

E isso não ocorre só no programa, cada vez mais as crianças pensam e agem como mini-adultos. A agenda delas, se bobear, é mais atarefada que a de um adulto: de manhã escola, à tarde aula de inglês, futebol, balé, vôlei, equitação, psicólogo, fonoaudiólogo, aula de reforço, etc. A hora de brincar? Ah, essa fica para quando sobrar algum tempo, se sobrar…

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