Toda dor vem do desejo

A tal dor faz a gente entender tudo sobre uma doença que aflige uma pessoa que amamos. Ela, a dor, também nos faz superar limites para impressionar pais que nunca estão satisfeitos com os nossos resultados na escola. Ela, de novo, moveu artistas devotos ou invejosos que queriam derrubar uns aos outros durante o renascimento, a fim de, mais uma vez, impressionar ricas famílias que comprariam suas obras para as expor em requintadas salas de estar, para impressionar outras famílias ricas.


Grandes descobertas e invenções muitas vezes são fruto do acaso. A história já nos provou isso. Mas, esse tal “acaso” não era simplesmente um tropeço na ideia e pronto. Na maioria das vezes, a pessoa envolvida já estava debruçada sobre o projeto há tempos, mas ainda sem sucesso.

Até que um resultado totalmente diferente do esperado muda tudo.

Escrevendo uma sinfonia baseada no comportamento da natureza, como Vivaldi; ou pesquisando os efeitos da radioatividade, como Marie Curie; ou talvez em busca de substâncias capazes de matar ou impedir o crescimento de bactérias em feridas infectadas, como Fleming; ou, quem sabe, escrevendo uma cartinha de amor e daí criar uma obra prima da literatura universal, como você.

Não jogue seus rascunhos fora. Guarde-os!

O acaso, já dizia Pasteur, só favorece os espíritos preparados “e não prescinde da observação”. A curiosidade é o elemento-chave que nos torna criativos. Sem isso, mesmo com tudo a nosso favor, nada se cria e nada se transforma. Ao contrário do que defendem os Titãs, o acaso não vai proteger você, enquanto andar distraída. Presta atenção, porque sempre há um jeito novo de se fazer coisas velhas. Isso é ser curioso, isso é reinventar o mundo. Isso é o poder de se reinventar!

A plasticidade de nossos cérebros e as infinitas possibilidades desse diverso mundo nos garante passagem livre para a novidade, mesmo que pareça estranho (e sempre é) num primeiro momento.

A curiosidade é uma “dor” que nos incomoda. Uma coisa que coça nos cantos da nossa mente. A gente pergunta e questiona o tempo todo, de várias formas. Mas, na maioria das vezes preferimos respostas bem definidas e, de preferência, definitivas. Quando sentimos que o chão começa a se mexer dá um mal estar — lá vamos nós de novo. Os terremotos precedem mudanças. As coisas nunca vão ser ou estar no mesmo lugar eternamente. E isso incomoda muito: afinal, quem não gosta da ideia de paraíso?

A tal dor faz a gente entender tudo sobre uma doença que aflige uma pessoa que amamos. Ela, a dor, também nos faz superar limites para impressionar pais que nunca estão satisfeitos com os nossos resultados na escola. Ela, de novo, moveu artistas devotos ou invejosos que queriam derrubar uns aos outros durante o renascimento, a fim de, mais uma vez, impressionar ricas famílias que comprariam suas obras para as expor em requintadas salas de estar, para impressionar outras famílias ricas.

A criatividade vem de uma dor. Uma vontade de superar limites, próprios ou alheios.

Esse sentimento potencializa nossa curiosidade, em busca de lados e profundidades que ainda não foram experimentados. A opressão do Império Romano fez com que os primeiros cristãos inventassem métodos cada vez mais alternativos para continuarem a evangelizar, escapando das arenas cheias de areia, sangue e leões famintos. O período pós 64, no Brasil, inspirou muitas músicas e literatura que surpreenderam pelo refinamento, em níveis capazes de burlar a censura sem perder a mensagem que precisava ser passada ao público. Dias difíceis tornam a curiosidade um elemento explosivo. Nada fica livre do seu poder.

Amores impossíveis criam poetas. Prisões de segurança máxima criam fugitivos cinematográficos. A Guerra Fria levou astronautas e cosmonautas ao espaço, numa clara disputa de poder. A “dor” de Hitler, descrita em seu livro, acabou matando milhões de inocentes. A falta ou excesso de água nos obriga a tomar providências que garantam a nossa sobrevivência. Ou seja, o fio cortante da vida está à espreita, exigindo o tempo todo uma atitude de todos os seres vivos. Em nosso caso, podemos raciocinar a respeito, e nos envolver de muitas formas, mas só a dor emocional vai nos fazer ir na direção do problema, cheios de coragem e medo, a fim de resolvê-lo.

Benção ou maldição? Ninguém pode afirmar. A dor de não saber vai continuar a nos mover na direção de um futuro que nunca poderá ser previsto, apenas vivido, com versões cada vez mais interessantes de desafios a nos inspirar para o bem e para o mal. Afinal, o que é o bem e o que é o mal? Eis a dor.

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