Sobre a busca pela felicidade ininterrupta

Por que repetir exaustivamente algo que te faz bem não vai te tornar mais feliz

Você já parou pra pensar por que ouvir sua música preferida tocando no rádio te dá mais prazer do que quando você a escuta naquela playlist diariamente?

Pode crer: essa é uma dúvida que me acometeu num desses dias em que dirigia para o trabalho (naquele tempo distante em que não trabalhava em home-office) e ficou pairando pela minha cabeça desde então. Até a semana passada.

Eu sou uma dessas pessoas que se interessa por muitas coisas ao mesmo tempo. Do tipo que inicia várias frentes e depois não consegue concluir todas elas. E, num dia qualquer de quarentena, resolvi fazer um curso sobre Felicidade da Universidade de Yale: The Science of Well-Being – disponível gratuitamente no Coursera, para quem se interessar. Dessa vez fui envolvida até o final.

Mas o que esse curso tem a ver com a minha dúvida sobre música?

Aprendi com a professora Laurie Santos que o nosso nível de felicidade por fazer algo que desejamos atinge um pico e tende a diminuir até o nosso “nível padrão”, quando mantemos contato repetitivo com aquilo. É a chamada adaptação hedônica, observada por pesquisadores em diversos estudos.

Isso explica por que ouvir várias vezes a mesma playlist pode deixar de ser prazeroso com o passar dos dias. Explica também por que investir em bens materiais não traz satisfação a longo prazo: à medida que o tempo avança, o objeto continua ali, inalterado, e perde toda graça.

Qual seria então a saída para aumentar nosso nível de felicidade de maneira duradoura?

O primeiro passo consiste simplesmente em não investir nesses bens materiais, e sim em experiências. Para te comprovar a eficácia disso, proponho um breve exercício: pense naquela viagem dos sonhos que você fez anos atrás. Você consegue se lembrar de qual celular tinha na época ou qual a marca da roupa que estava usando? Ou se recorda de coisas como quem estava ao seu lado, aquele prato incrível que provou, como sentiu o vento batendo no seu rosto ao avistar aquela paisagem… É sobre isso.

Voltando ao exemplo da música no rádio, nos deparamos com uma segunda forma de prolongar os efeitos que uma atividade prazerosa pode ter sobre nós: interrompendo-a. Simplesmente parando de fazer aquilo, podemos despertar novamente a sensação de excitação ao enfrentá-la na próxima vez. Isso funciona quando somos pegos de surpresa (como quando a rádio toca nossa música), mas também de forma intencionalmente controlada. Pode parecer contraintuitivo num primeiro momento, mas dedique um tempo para refletir sobre isso. É extremamente libertador se dar conta de que você pode ter domínio sobre o seu nível de bem-estar.

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